Dossier

Que horizontes semear?

Sandra Arson Lemos
...

Quando se aborda o tema do Voluntariado Missionário há um sem número de perspectivas de análise por onde aprofundar. Aquela que trazemos é apenas uma, e não tem outra pretensão senão a de lançar sementes de reflexão, pensando num horizonte amplo. É um facto que há um aumento no número de entidades e grupos que se dedicam ao voluntariado missionário. É um facto que é também crescente a divulgação do voluntariado missionário enquanto movimento em expansão em Portugal. É ainda um facto que a Fundação Evangelização e Culturas (FEC) tem, paulatinamente, mas de forma continuada, contribuído para essa divulgação. O Estudo que a FEC elaborou, com dados estatísticos recolhidos em 2004, alusivo aos 18 anos de voluntariado missionário português, confirma as anteriores afirmações. Chega, então, a hora de ousar ir mais longe e questionar qual o horizonte que se entende poder chegar a médio e longo prazo. É provável que o Voluntariado Missionário continue a expandir-se. Mas para onde? Para quê? Que caminho está a seguir? Estão os seus frutos a ser capitalizados? Já são muitas, as experiências vividas. Várias foram isso mesmo, experiências. Será que a terminologia voluntariado incorre demasiado na noção de algo temporário? É verdade que os voluntários missionários têm contribuído para a animação do espírito missionário português e que isso arrasta inúmeros efeitos multiplicadores, mas que esse facto não nos abstenha de questionar se não queremos mais. Sendo o voluntário missionário um Leigo ao serviço da Igreja, surge a reflexão sobre a partir de que momento se dá um salto entre o voluntário missionário e o leigo missionário. Será só uma questão de terminologia? Assim que se for tornando claro que o Leigo missionário não é aquele que vive uma experiência temporária, mas que opta por uma vocação, mais facilmente se irá entender que esse compromisso pode e deve ser vivido onde quer que se esteja e que também em Portugal muito há realizar numa opção de vida enquanto leigo missionário. Vale a pena as muitas entidades e grupos considerarem que este é um dos caminhos pelos quais a Igreja pode dar força aos Leigos? A missão ad gentes dos voluntários leva muitos a sair de si mesmos e abre portas de nova evangelização. Mas teremos que sair de uma visão algo exótica e lírica da missão? São questões, muitas questões! A colaboração que os voluntários/leigos vão oferecendo aos missionários religiosos no terreno vai sendo, a pouco e pouco, visto como relevante. Se tempos houve em que o envio de leigos para as missões ad gentes podia trazer subjacente algum propósito em gerar novas vocações religiosas, hoje é já mais natural assumir que, podendo tal suceder, não é esse o objectivo. Sendo os desafios boas oportunidades de crescimento, que todos quantos trabalham em grupos e movimentos de volunta-riado missionário tenham como horizonte uma perspectiva de quem são hoje e de quem pretendem ser no futuro. De que modo os seus recursos humanos e os seus projectos irão, ou não, contribuir para um verdadeiro e mais ambicioso movimento de voluntariado missionário em Portugal? A fasquia necessita permanecer sempre elevada, sob pena de ficarmos pela mera experiência, embora sem prejuízo do que esta, por si só, já representa. Deste modo, valorizando o muito que tem sido realizado e as imensas potenciali-dades para o futuro, cabe a todos quantos se têm empenhado nesta área prosseguir com este trabalho, segundo horizontes de sustentabilidade e reforço de um papel cada vez mais forte dos Leigos na acção da Igreja. Sandra Lemos Fundação Evangelização e Culturas


Missões