Dossier

Que resposta aos sem-abrigo?

Pe. Francisco Pereira Crespo
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Ao passar pelas ruas das nossas cidades deparamo-nos com pessoas de todas as idades pedindo esmola, ou vendendo revistas ou pura e simplesmente encostados nas bermas das estradas e deitados no chão enrolados nos seus trapos, (únicos haveres) ou sobre velhos cartões defendendo-se do frio. Todos sabemos os seus nomes: chamamos-lhes “os sem abrigo†e pare-ce que ficamos com a consciência mais ou menos tranquila porque de antemão fazemos um julgamento:â€Ã© um pobre, coitado, de que já não há nada a fazerâ€. Mas quem teve a alegria de con-tactar alguma vez com estes homens e mulheres, é testemunha de que por detrás de uma aparência desajeitada existem histórias de vidas muito complexas. Nesta altura do Natal parecem ser foco de muitas atenções e considerações por parte de muita gente crente ou não crente que quer partilhar com eles a sua solidariedade. Mas eu penso que eles não se compadecem com um simples gesto natalício de solidariedade ainda que seja um luxuoso jantar de Natal. Há muito mais que podemos e devemos fazer. Não me perguntem, nem me julguem se o faço ou não, porque bem sei que se trata de uma população muito especial que por isso mesmo necessita também de um trato especial com técnicos, profissionais e voluntários com uma vocação especial para este trabalho concreto. Antes de mais é preciso um respeito profundo pela sua liberdade e pelo seu modo de vida, que ultrapassa os nossos normais parâmetros sabendo que quanto mais os coagimos ou obrigamos a qualquer norma ou regra de vida, mais eles resistem e fogem. Por isso um dia eu sonhei e muito desejaria que o meu sonho se realizasse: Constituir equipas multidis-ciplinares compostas por médicos de clínica geral, enfermeiros, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, educadores sociais, animadores culturais, ajudantes de acção directa em vários equipamentos espalhados pelos centros das grandes cidades (porque é ali que eles vivem), abrir-lhes as portas, oferecendo-lhes o que desejarem, sem a nada obrigar. Ao mesmo tempo que se lhes oferece os cuidados básicos, estas equipas têm oportunidade de observar atentamente os problemas de cada um e individualmente ir tentando a possível e lenta recuperação. A experiência não é inédita. Em Portugal as várias instituições que se dedicam a esta população, penso que não têm tido possibilidades técnicas e financeiras suficientes para atingir o grau de promoção desejável, sem querer fazer aqui qualquer tipo de juízo de valor porque é sobejamente conhecida a grande dedicação destes técnicos e voluntários. Mas, não obstante o imenso esforço neste campo, os casos continuam a aumentar cada vez mais, interpelando a capacidade da nossa solidariedade. Se, no entanto, não for possível atingir o óptimo, que cada comunidade faça tudo o que estiver ao seu alcance para apoiar quem não tem abrigo porque não tem quem os compreenda e partilhe um pouco de carinho e amor. Pe. Francisco Crespo, Presidente da CNIS


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