Dossier

Santarém - 30 Anos a Servir a Esperança nas terras à beira Tejo

Pe. Aníbal Manuel Vieira
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“A Igreja é uma mãe que, à semelhança de Maria, conserva no seu coração a história dos seus filhos, assumindo como próprios todos os problemas que lhe são conaturais” (João Paulo II, Memória e Identidade, p.140). A preocupação de que os cristãos não vivam muito longe do Pastor a cujo cuidado estão confiados foi a razão da criação da Diocese de Santarém e da nomeação do seu primeiro bispo, D. António Francisco Marques, tal como consta das respectivas bulas emanadas em 16 de Julho de 1975. O verão “quente” de 1975 foi tempo de especial esperança nas terras à beira Tejo, do distrito de Santarém, pertencentes ao Patriarcado de Lisboa, tempo que culminou no dia 04 de Outubro com a Ordenação episcopal e tomada de posse do D. António Francisco como Bispo de Santarém. Discípulo de S. Francisco de Assis, o nosso primeiro bispo, pautou-se sempre por uma relação próxima e amiga no serviço a todos quantos lhe foram confiados. Nas suas deslocações pelas paróquias da Diocese tinha o cuidado de procurar os sacerdotes, de parar o carro para cumprimentar, para dar uma palavra, para saber da saúde da pessoa ou da família dos servidores do povo de Deus… O seu olhar directo e profundo interpelava, de um modo especial, os jovens. Vários padres da Diocese ainda hoje se recordam do encontro convidativo com o D. António. Encontrar colaboradores para ultrapassar a escassez de recursos humanos para o anúncio do evangelho e a celebração da eucaristia era uma constante preocupação do seu ministério. Ele próprio ia celebrar a eucaristia dominical a uma ou mais comunidades. Ia, sempre que possível, às paróquias confiadas ao cuidado pastoral de religiosas e àquelas que ele sabia que não iriam ter missa por doença ou impedimento do sacerdote responsável. Uma diocese é um organismo vivo, um corpo com membros e células. Tendo herdado as estruturas da região pastoral de Santarém, este organismo necessitou de um acompanhamento próximo, sereno e forte para que se formasse um corpo de membros activos servindo a missão para que foi criado. A peregrinação ao Santuário de Fátima no ano de 1987, com o lema: “Diocese de Santarém é vida a crescer” mostrou a visibilidade da caminhada realizada como Igreja particular. D. António Francisco, homem de esperança e de paz procurou sempre o bem de todos. A Igreja de Santarém está-lhe eternamente grata pelo serviço prestado. A sua sepultura na Sé traduz a simplicidade e a humildade com que viveu. No entanto, creio que seria de justiça assinalar, em lugar público, a sua passagem por esta cidade. O Verão, o Outono e o Inverno de 1997 colocaram a vitalidade da Diocese à prova. A doença, a morte de D. António, e a espera de um novo bispo, foi um tempo de sofrimento e de expectativa. Sofrimento pela perda do pastor que soube agir como um pai, expectativa pelo que um novo bispo numa diocese significa. A nomeação do D. Manuel Pelino foi um sinal claro de que a nossa esperança não tinha sido em vão. Com especialização na área da pastoral catequética e a experiência de 10 anos de bispo, apresentou-se como cristão entre cristãos, assumindo a responsabilidade de bispo de um organismo vivo. Desde o início do seu ministério entre nós que tem vindo a fomentar a formação do povo de Deus e do clero, nomeadamente mandando alguns padres especializarem-se em áreas da teologia, consideradas essenciais para vida da Diocese. O livro “As Orações de Sempre”, bem como o Jornal “Porta do Sol”, a página da Diocese na Internet, são instrumentos que considera essenciais para pôr ao alcance de todos os diocesanos para incentivar a oração em família, o conhecimento da vida desta Igreja particular e a partilha do que de bom vai acontecendo. A peregrinação, por todas as paróquias da Diocese, de uma imagem de Nossa Senhora no ano do grande Jubileu – 2000 - revelou-se um sinal gerador de comunhão e de educação para o sentido da Igreja Mãe e da sua padroeira. O livro “Diocese de Santarém – 25 anos – Memória, Vida e Projecto”, elaborado nos 25 anos da criação da Diocese, foi uma oportunidade para “fazer o balanço do caminho percorrido, solidificar a identidade da própria Diocese e desenvolver algumas dimensões deste organismo vivo”. O património cultural, expressão dos valores, do sentido estético e dos próprios sentimentos dos povos ao longo dos tempos, o seu cuidado, valorização e apresentação na relação com a fonte que lhe dá vida, tem sido um assunto muitas vezes tratado pelo nosso actual bispo. As visitas pastorais, devidamente preparadas e organizadas pelos conselhos vicariais, são outro meio que o D. Manuel tem usado para a dinamizar a diocese e contactar directamente com as diversas realidades humanas e cristãs de cada comunidade. Nos tempos de exaltação do colectivismo o Senhor concedeu-nos a graça de ter como pastor um homem de relação próxima, de trato simples e com paciência para esperar o tempo oportuno para decidir. Numa época de exaltação do individualismo temos como pastor um homem habituado a trabalhar em equipa e com determinação para realizar, nesta terra à beira Tejo, o projecto de Igreja apresentado pelo Concílio Vaticano II. A fé conduz-nos a viver numa atitude de esperança e não nos faltam sinais de que não esperamos em vão. Bendito sejas Deus. Aleluia. Pe. Aníbal Manuel Vieira Julho de 2005


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