Dossier

Sofia Coppola - A sua Segunda Obra

Francisco Perestrello
...

Francisco Perestrello, Director CINEDOC

O cinema americano subordina-se, de forma geral, a meia dúzia de regras seleccionadas para garantir a satisfação do público. Tais regras, que têm evoluído ao longos dos anos, vêm desde o “Star System†até à estru-turação dos argumentos que assegurem um “happy endâ€, para que o espectador saia feliz. Este último aspecto é ainda comum aos filmes mais comerciais, mas tem vindo a ser descontinuado quer pela produção independente quer pelos filmes mais realistas. «Lost in Translation – O Amor é um Lugar Estranho» segue claramente esta nova linha. Ao longo da narrativa lança vários problemas, na sua maior parte respeitantes às relações humanas; encaminha os acontecimentos para um final aparentemente previsível, mas nem tudo vem a correr como as premissas deixariam supor. Há uma preocupação directa com o problema da solidão. O protagonista, um actor americano a colaborar em Tóquio numa campanha de publicidade, sofre os efeitos do isolamento. Afastado da família, com quem parece manter uma relação enfraquecida por uma crise da meia idade, não fica indiferente aos encantos de uma rapariga, casada há um ano, que vê os dias correr com enorme tédio, enquanto o marido, fotógrafo de sucesso, trabalha intensamente com belos modelos, chegando a afastar-se de Tóquio por alguns dias. No confronto destas personagens – excelentemente interpretadas por Bill Murray e Scarlett Johansson – a realizadora Sofia Coppola encontra a matéria desejada para um estudo humano e social, de que deixa as principais conclusões em aberto para uma maior participação do espectador. O confronto de culturas realça sobretudo as dificuldades de compreensão por diferença de língua. Mas por um breve retrato de Tóquio fica marcado o ambiente, as luzes e as expressões, e até as diferenças de compleição física, para sentirmos como são vulneráveis as pessoas inseridas num contexto que lhes é estranho. Francisco Perestrello, Director CINEDOC


Cinema