A grave calamidade do Sudeste Asiático deixou bem visíveis três realidades de extrema importância: a contingência humana; as desigualdades económico-sociais; e a solidariedade incompleta.
A contingência humana ficou bem patente no facto de não dominarmos as forças da natureza e sofrermos as conse-quências disso mesmo. As vítimas do sismo e do tsunami revelaram, em toda a profundidade, o peso da contingência humana.
Revelaram também o peso negativo das desigualdades económico-sociais. As consequências de catástrofes desta natureza são muito mais graves em países “retardados” do que em países “avançados”. Estes, ao contrário daqueles, dispõem de sistemas de prevenção, de alerta e de evacuação que permitem a adopção de providências adequadas em tempo oportuno. Além disso, aplicam técnicas de construção e de ordenamento do território mais correctas e dispõem de serviços de protecção civil e de saúde que reduzem e atenuam rapidamente as consequências das catástrofes.
As próprias vítimas – mortais ou não mortais – recebem enquadramentos bem diferentes se forem, por exemplo, cidadãos suecos ou, pelo contrário, cidadãos dos países mártires do Sudeste Asiático ou de África.
A solidariedade mundial perante tão grave fenómeno natural foi verdadeiramente extraordinária. Verificou-se em todo o mundo, traduziu-se em actos merecedores de todo o apreço e deu origem à recolha de fundos financeiros impressionantes.
Há que registar e elogiar tudo isso. Ao mesmo tempo, no entanto, devemos ter em conta que a solidariedade em curso é notoriamente incompleta: porque os montantes financeiros ficam muito aquém das necessidades; e porque ainda não existem compromissos de atenuação das gritantes desigualdades económico-sociais.
Daqui resulta o imperativo de intensificação do nosso empenhamento solidário, em termos financeiros e na promoção de práticas sociais e políticas baseadas na justiça e no respeito pela dignidade humana de cada pessoa. Tais práticas só terão a ganhar com o facto de serem desenvolvidas tanto na esfera nacional como na internacional. Nesta última, realça-se hoje, com toda a força, o apoio às vítimas do maremoto do Sudeste Asiático.
Acácio F. Catarino