Dossier

Tempo de Guerra

Francisco Perestrello
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O cinema holandês, raramente visto em Portugal, regressa com uma obra de grande valor humano, uma vez que se debruça sobre os problemas atravessados pela população alemã e dos países ocupados no decurso da II Guerra Mundial. «As Gémeas», tomando por base o best seller de Tessa de Loo, dá ocasião ao cineasta holandês Ben Sombogaart de percorrer algumas décadas da vida de duas gémeas que, separadas em criança, são entregues a diferentes famílias, ficando uma a viver na Alemanha e a outra na Holanda. O reencontro das irmãs, no pós-guerra, põe em confronto a viúva de um oficial das SS e alguém que não chegou a casar, perdendo o seu noivo quando este é deportado para Auschwitz não voltando a dar notícias. Foram muitos os filmes, ao longo dos anos, que tomaram por tema esta época, mas «As Gémeas» não se debruça preferencialmente sobre a narrativa histórica mas antes na análise dos sentimentos. Sem nunca procurar a justificação ou deculpabilização do genocídio, do holocausto, tenta separar a culpa colectiva da culpa individual, atribuindo a cada uma das partes a sua dimensão. Como nem todos os que participaram na guerra e nas acções correlativas tiveram a mesma responsabilidade e, até, igual conhecimento da dimensão dos crimes cometidos, tenta-se dar a proporção da responsabilidade de cada um e, sobretudo, do reflexo sobre terceiros, sejam vítimas directas sejam as pessoas mais próximas arrastadas nos acontecimentos que as envolveram. O filme é uma obra escorreita, bem realizada, com belas imagens e um notável conjunto de actores, sobretudo de actrizes, tendo sido necessário o recurso a três intérpretes diferentes para cada uma das gémeas, tendo em conta as diferentes idades que vivem ao longo da narrativa, da infância até ao fim da vida. Sente-se neste filme a maturidade do cinema holandês e a capacidade do mesmo em enfrentar um tema difícil mas de profundo sentido social. Francisco Perestrello


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