Dossier

Testamento de paz e unidade

Octávio Carmo
...

Lições do Irmão Roger

O fundador da Comunidade de Taizé, Irmão Roger, deixou nesta passagem por Lisboa uma verdadeira testamento de paz e de unidade, entre os cristãos e a entre a humanidade. Desde o início do encontro se falou da necessidade de paz. “A paz mundial é essencial para aliviar os sofrimentos, em particular para que as crianças que nascem não conheçam a angústia e a insegurança", sublinhou o irmão Roger. O Encontro de Lisboa foi para os milhares de participantes uma oportunidade para fazerem uma experiência diferente de Deus e da Igreja. A preocupação constante pela "urgência da paz" não pode surpreender, neste sentido, porque a construção da comunhão foi dificultada, ao longo dos últimos anos, por uma série de guerras fratricidas entre povos deste mesma Europa, e ocasiões como esta são fundamentais para superar barreiras. A Nova Europa que estamos a ver nascer exige, segundo o fundador de Taizé, um esforço de unidade entre os cristãos. Falando de um Continente marcado por décadas de incompreensão, guerras e conflitos, o Irmão Roger considerou que o actual momento histórico é o ideal para construir a paz. “Comecemos então por nós, cristãosâ€, foi o desafio que lançou. “Hoje em dia, as divisões entre cristãos, antigas mas também novas, levantam uma interrogação mais premente do que nunca. Já não é possível adiar indefinidamente a comunhão entre os cristãos. Se todos pudessem deixar crescer no seu coração um desejo ardente de vida em comunhão…â€, apontou. A comunhão entre cristãos foi apresentada como um contributo fundamental para a construção da paz, principalmente “onde ela é ameaçada pelos conflitos e violênciasâ€. O Irmão Roger deixou aos participantes no Encontro Europeus de Jovens um pedido especial: acreditarem que “Deus dirige a cada um de nós um apeloâ€. “Durante estes dias passados em Lisboa, gostaríamos de procurar aquilo que Deus espera de nósâ€, assinalou. Nos vários momentos de oração todos aprenderam que é preciso descobrir o que significa “abrir caminhos de paz e reconciliação nos lugares em que vivemosâ€. Na 27ª etapa da "peregrinação de confiança através da terra", como a Comunidade de Taizé gosta de designar estes Encontros, jovens católicos, protestantes e ortodoxos quiseram deixar claro que “a paz constrói-se também através da oraçãoâ€. Essa mesma paz permite, depois, “lançar um olhar de esperança sobre o mundo, mesmo se este é frequentemente dilacerado por violências e conflitos". “Quando jovens, e também menos jovens, tomam a decisão interior de viver para a paz e para a confiança, conseguem fazer das suas vidas uma luz que irradia ao redorâ€, assegurou o irmão Roger. Na carta que o fundador da Comunidade de Taizé enviou aos participantes do Encontro de Lisboa, sob o título “Um futuro de pazâ€, destaca-se a necessidade de dar uma resposta concreta e cristã aos que “aspiram hoje a um futuro de paz, a uma humanidade livre das sombras da violênciaâ€. Uma das frases mais marcantes do Encontro, com direito a uma reflexão a cargo do Cardeal-Patriarca, assinalava que a oração não afasta das preocupações do mundo: "nada há de mais responsável que a oração", escreveu o Irmão Roger na sua Carta aos participantes. A comprovar esta atitude de fundo, logo no primeiro momento de oração comum, todos os presentes recordaram nas suas preces as vítimas da tragédia da Ãsia “Rezemos para entrar em comunhão com as vítimas. Consolemos este povo na sua dorâ€, pediu o fundador de Taizé. Talvez por isso, há quem se tenha referido a este antigo pastor calvinista, de 89 anos, como um “grande místico contemporâneoâ€. O seu olhar não se desvia nunca da realidade que nos rodeia, mas não se esquece de procurar nela um sentido oculto, mais profundo. A proposta de Taizé foi de encontro aos temas da pobreza, da imigração, da fome, das prisões, falou-se de modelos de desenvolvimento e da construção da paz: "vida interior e solidariedade humana", como diz o “lema†da Comunidade. Uma outra lição, fundamental na nossa sociedade portuguesa, é a maneira como a Comunidade vai de encontro a quem hesita, a quem se afastou da sua fé. “Ao longo de uma vida, surgem frequentemente hesitações e mesmo dúvidas. Podemos então dizer a nós próprios: «Vai em frente! Lembra-te que a inquietação não a nenhum lado»â€, referia o Irmão Roger numa das orações.


Taizé