Dossier

Um ano depois visita de Bento XVI

Micael Pereira
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Fernando Micael Pereira

Um ano após a magnífica viagem pastoral de Bento XVI a Portugal e a Fátima, é certamente altura de recordar a mensagem da sua presença e das suas palavras, tentando fazer algum balanço do que foi este ano.

Com preparação pouco divulgada pela maioria da comunicação social, mais empenhada em explorar e invocar equívocos e banalidades, sobretudo em minimizar factos e expectativas, dissuadindo mais que estimulando o seu interesse, a presença do Papa acabou por ser rapidamente intuída, aceite e acolhida pelos portugueses. Das provocações sobre a pedofilia à apoteose do Porto, foi uma caminhada de progressiva aceitação e empatia em que o Santo Padre e o povo português se encontraram bem acima das especulações de tantos comentadores, numa aproximação e entendimento que venceu as distâncias anteriormente por tantos cultivadas. Instaurar a confiança dos portugueses em Bento XVI, descobrir a simplicidade e a cordialidade do Papa, foi o primeiro fruto desta viagem.

Saber que é cada vez menos realista dar por suposto que a fé existe, foi e é uma das preocupações presentes nas suas palavras. Disse aos Bispos em Fátima que os tempos que vivemos exigem um novo vigor…um laicado maduro, identificado com a Igreja, solidário com a complexa transformação do mundo. Nos meios humanos onde o silêncio da fé é mais amplo e profundo: políticos, intelectuais, profissionais da comunicação…não faltam crentes envergonhados que dão as mãos ao secularismo, construtor de barreiras à inspiração cristã.

O testemunho público da Conferência Episcopal e de Bispos empenhados cada vez mais na cultura, analisando em público a atualidade portuguesa, tomando posições sobre problemas sociais e fazendo-o com variedade de perspetivas, organizando cursos de Doutrina Social da Igreja que se procuram adaptar à realidade diversa das populações, é cada vez mais frequente e mostra como as palavras do Papa foram tomadas a sério.

Há Bispos que têm sido capazes de ser inovadores nas propostas de organização de ações de solidariedade, que têm insistido ao longo desta crise na urgência da atenção aos mais fracos, que têm proclamado a importância de se desenvolver a liberdade de ensino, que têm valorizado a importância da verdade, do combate à corrupção, da contenção no luxo, na avidez e na ostentação, dando cada vez maior visibilidade às suas intervenções e estimulando a Igreja a ter uma presença cada vez mais desassombrada.

Faltará ainda que os cristãos que em outras alturas se queixam da falta de estímulo dos mais responsáveis, ganhem agora a coragem de os seguir de modo frontal e explícito.

É de relembrar com Bento XVI que é necessário ir ainda mais longe, procurando reavivar a missão cristã de Portugal na Europa e no mundo, bem à portuguesa, abrindo-vos ao contributo dos outros para serdes vós próprios conforme afirmou no Terreiro do Paço.

Na resposta que procurou dar à crise económica e social mostrou como o puro pragmatismo económico cria problemas insolúveis. Por isso agora é o momento de ver que a ética não é uma coisa externa, mas interna à racionalidade e ao pragmatismo económico, conforme teve ocasião de dizer aos jornalistas na viagem. Um ano depois, ao discutirem-se as condições do plano de resgate, estes princípios começam a estar presentes no próprio modo como o plano é apresentado e discutido.

Convidou as instituições sociais da Igreja a assumirem uma identidade bem patente: na inspiração dos seus objetivos, na escolha dos seus recursos humanos, nos métodos de atuação, na qualidade dos seus serviços, na gestão séria e eficaz de meios. Estas últimas palavras se levadas à prática, bem constituiriam um profundo plano de reforma de tantas instituições anquilosadas.

Valerá a pena ainda relembrar que precisamos de ter um coração que vê, que o que fascina e renova a Igreja é a santidade. Não podemos esquecer este convite feito no CCB: fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza. Sede navegantes do Bem, da Verdade e da Beleza.

Fernando J. Micael Pereira, professor universitário

 



Bento XVI - Portugal