Dossier

Um Menino chamado Natal

Joaquim Franco
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O Natal vai comovendo e alterando rotinas. Mas o que é feito do presépio que provoca? O tempo que vamos atravessando, e nos vai formatando, é tomado pela linguagem visual. Dizem-nos estudos científicos que a esmagadora maioria do que apreendemos, absorvendo no espaço e nas experiências vividas, é da ordem dos estímulos visuais, da “imagemâ€. Mas a percentagem e as variáveis são outras na medição do impacto real da informação apreendida. O que verdadeiramente “ficaâ€, de tudo o que “entraâ€, é o que nos faz “dizer†e “fazer†a experiência adquirida, seja ela qual for. Os natais que absorvem a contemporaneidade estão recheados de “imagemâ€. Na plasticidade das iluminações, construímos a magia das ilusões. O brilho das luzes arranca-nos do “real†e remete-nos para o extraordinário valorizando o ciclo da “emoçãoâ€. A necessidade mais intrínseca ao “ser†humano invade-nos por uns tempos, porque do “ventre†viemos e num “berço†nos começámos a entender com o mundo. Estes natais criaram, e já são, uma época especial para concentrar ternuras. Construídos sobre a lógica dos símbolos religiosos, concretizam-se no imediato de um tempo específico. Estes natais representam a universal crença nos sentimentos mais puros, atraente e encantadora, mas espoliada do transcendente que atenua a espiral consumista. É importante viver também estes natais que penetraram na esfera do inevitável. Mas a própria história destes natais não se conta sem o Natal que tem um “Menino†no presépio. Um “Menino†que valoriza a dádiva porque é oferta. Se o “pai natal†é fantasia que se concretiza na generosidade momentânea, o “Menino†do presépio é esperança para moldar os andarilhos de cada dia. Se o “pai natal†é o “fim de linha†numa noite de sonho, o “Menino†do presépio interpela, provoca, indica caminhos a quem os procura, é continuidade na vida real. Independentemente do contexto da fé, a narrativa d’Aquele “Menino†no presépio torna-se acontecimento porque contraria os “medosâ€. O nascimento do menino Jesus é rodeado por muitos obstáculos. Mas também por um desafio frontal aos impossíveis que atormentam – “não tenhas medoâ€, confia. (…) Há sempre algo ou alguém que se coloca no caminho. (…) Uma oposição, silenciosa e invisível, à força de vontade. Mas há também (…) uma resistência no âmago do desespero. Um sinal, uma teimosia, uma presença (…) quando prevalece o desalento. O menino Jesus é o culminar de uma espera. Exemplo para a humanidade, porque vence a conjugação dos obstáculos. As narrativas da infância de Jesus não começam – recomeçam a história de um projecto. Retomam a sensibilidade como linguagem. Revelam e antecipam a experiência de um testemunho. Com ou sem rigor histórico, em romance ou livro sagrado, construção emotiva ou relato iluminado, o presépio é a disponibilidade renovada para despedaçar a incoerência. Um escândalo que alimenta utopias. O Natal tem um nome que é um “Meninoâ€. E o presépio que O acolhe é um livro aberto na história de cada ser humano, emancipado na Procura de um Encontro… Joaquim Franco, Jornalista


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