Dossier

Um Retrato Vivo do Século XVII

Francisco Perestrello
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«Rapariga com Brinco de Pérola» situar-se-á, seguramente, entre os melhores filmes da presente época cinematográfica. Produzido dentro da mais rigorosa linha estética do cinema britânico traz-nos uma reconstituição histórica muito precisa de Delft, uma pequena cidade da Holanda, no Século XVII, bem como da sociedade da época. Centra-se, sobretudo, nas relações sociais entre a nobreza arruinada e aqueles que a servem, em conjugação com o apoio de uma burguesia que, com o poder do dinheiro, encontra ocasião de conviver, de privar, com o que se consideraria então a classe mais alta. A casa do pintor Johannes Vermeer é o centro de toda a acção. É aí que uma rapariga, filha de um ceramista arruinado, conhece as dificuldades de uma posição servil em que é tratada com grande crueldade. O seu contacto com a arte de Vermeer,de quem se torna assistente e modelo, é o único consolo para uma vida com pouco sentido. Johannes Vermeer foi um dos mais importantes pintores holandeses, mas sobre ele são escassos e pouco precisos os dados históricos existentes. Tal permitiu ao realizador, tomando como base um romance de Tracy Chevalier, dissertar sobre um dos seus quadros e sobre o modelo que permitiu a sua criação. Tal dissertação centra-se sobre o modelo, vítima de uma sociedade em que os valores humanos eram rela-tivizados em função das vantagens a obter de cada contacto ou situação. Para além do valor temático e da informação sobre uma época remota, o filme merece ainda a atenção tendo em conta a beleza das suas imagens, muito valorizadas pela fotografia do português Eduardo Serra, que com o trabalho executado nesta obra obteve uma nomeação para o Oscar, cuja escolha entre os cinco nomeados se irá verificar no último dia do corrente mês de Fevereiro. Francisco Perestrello


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