Um verdadeiro serviço público
“Não percebo porque vêm os senhores baterem-nos à porta aos Domingos de manhã!?”, protestava recentemente uma jovem numa escola, onde fui falar sobre história e religião judaica. Na realidade, a jovem confundia-nos com as Testemunhas de Jeová ou outra organização com hábitos de proselitismo militante, que a Comunidade Judaica não pratica de todo. Mas este pequeno episódio é significativo do grau de ignorância existente em Portugal sobre as religiões não católicas.
Relativamente ao judaísmo, muita gente e nomeadamente os jovens desconhecem o importante papel que os judeus desempenharam em Portugal ao longo de toda a sua história, desconhecem a religião judaica e as suas tradições, a sua rica e diversa cultura. Este facto, aliado à reduzida dimensão da Comunidade Judaica portuguesa - produto da história e nomeadamente da história das perseguições -, dificulta o nosso relacionamento e o diálogo com a sociedade que nos rodeia. A ignorância é também, como se sabe, um terreno fértil de intolerância e fanatismo.
Por tudo isto, a expressão pública através dos média e sobretudo através da RTP tem sido um importante meio de comunicação da nossa história, da nossa cultura e da nossa religião. Ao longo dos anos, o programa “A FÉ DOS HOMENS” tem-nos permitido divulgar o pensamento e a ética judaicos, as festas do nosso calendário, as influências judaicas nos costumes, na linguagem, na toponímia, na arquitectura portuguesas, a arte e a cultura, as actividades das nossas comunidades e tantos outros aspectos da nossa identidade.
A televisão é como se sabe o meio mais poderoso de comunicação de massas e, ao decidir manter o programa, apesar de algumas alterações no seu formato, a RTP está a prestar um verdadeiro serviço público à população portuguesa. Com efeito, a atribuição de um espaço de expressão pública às confissões religiosas, à divulgação dos seus objectivos, dos seus valores e acções, em coerência com a Lei da Liberdade Religiosa, contribui para um Portugal, mais informado, mais plural, mais tolerante e, esperamos, mais ético.
27 de Abril 2003
Esther Mucznik
Comunidade Israelita de Lisboa