Dossier

Unidade e Missão

Frei José Nunes
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«Unidade e Missão» é o tema do Oitavário de Oração pela Unidade dos Cristãos neste ano de 2010. Os dois conceitos enunciados no lema reclamam-se reciprocamente, embora seja sempre bom lembrar que a tarefa ecuménica (movimento dos cristãos rumo à unidade) não é temática especificamente missionária (a missão propriamente dita é destinada aos não-cristãos).

Há alguns anos, um teólogo africano, das tradicionais ‘terras de missão’, escrevia e ‘denunciava’ que os ocidentais não só haviam levado para África um cristianismo estrangeiro às suas culturas como, pior ainda, haviam exportado um cristianismo espartilhado em várias Igrejas, pelo que o problema da divisão das Igrejas cristãs não era algo que com eles nascesse mas sim uma imposição vinda de fora…

Assim, a divisão na Igreja de Cristo não é apenas um pecado em si mesma. É também um pecado e um escândalo que afecta a missão eclesial. Por isso, toda a tarefa ecuménica tende a superar a divisão interna dos cristãos mas também a criar as condições de possibilidade de uma missão/evangelização credível: de facto, que Evangelho de paz e unidade se pode anunciar se à partida, quem o faz, não vive essa paz e unidade?

Enquanto patamar prévio e condição de possibilidade de uma missão credível, a tarefa ecuménica deverá alicerçar-se em três grandes áreas: o diálogo espiritual, o diálogo de colaboração e o diálogo doutrinal.

O diálogo espiritual diz respeito à sã e pacífica convivência dos cristãos das diferentes confissões religiosas e ainda à possível e frutuosa oração em comum. Esta prece em unidade é já, em si mesma, altamente missionária, pois revela a toda a humanidade o projecto de Jesus Cristo de uma só família universal: «Que todos sejam um como Tu e Eu somos um» (Jo.A17).

O diálogo de colaboração é também muito importante e trata da união de esforços dos cristãos das várias Igrejas em vista da promoção humana, do trabalho em projectos de libertação das misérias e opressões de milhões de seres humanos que carecem de uma mão que lhes seja estendida. Também este ecumenismo é verdadeiramente missionário: Jesus não evangelizou apenas por belas palavras mas através de obras poderosas. A tarefa evangélica-missionária será sempre o anúncio explícito de Jesus Cristo e do seu Evangelho, mas o testemunho de vida e de serviço ao Homem é que constituirá a garantia de veracidade de tal ‘discurso’.

E o diálogo ecuménico terá de dar-se também a nível doutrinal. Acreditamos que as várias Igrejas, com as suas diversificadas tradições, têm todas elas riquezas a partilhar umas com as outras. Mas um consenso mínimo, em termos doutrinais, é indispensável não apenas como forma de um enriquecimento recíproco: é-o também reclamado pela própria missão! É que o anúncio de Jesus e do seu Evangelho a todos os que o não conhecem não pode ser feito com ambiguidades ou afirmações contraditórias, sob pena de se anular a si mesmo.

Toda esta temática, ainda que apresentada com palavras um pouco diferentes, está bem presente no documento publicado para a celebração do Oitavário deste ano, o qual pede uma atenção, uma leitura e um aprofundamento por parte de todos. Até em vista de uma cada vez maior consciência ecuménica.

Fr. José Nunes, op



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