Dossier

Valores africanos na cooperação Norte-Sul

Pe. Muanamosi Matumona
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Pe. Muanamosi Matumona, Diocese do Uíje-Angola

Enquanto o mundo vai permanecendo mergulhado no processo da globalização, é justo reconhecer o papel do intercâmbio entre os povos, na linha da solidariedade e da cooperação, podendo constituir-se uma verdadeira missão, nesta era das mutações frenéticas. Daí a necessidade de um novo rosto da missão, que seja compatível com os novos tempos. Neste sentido, não há dúvida de que europeus e africanos deverão encontrar uma linguagem comum, trabalhando todos juntos em «espírito e verdade», na mesma missão, para que se promova um mundo mais solidário e mais humano, indispensável nesta era em que o egoísmo, o orgulho, a corrida ao lucro e outros contra valores procuram manter a sua hegemonia na sociedade contemporânea. Todavia, seria justo reconhecer os dados que apontam o continente africano como uma região pobre (justamente devido à falta de uma política coerente protagonizada pelos seus governantes, que se têm revelado incapazes de gerir da melhor forma as inúmeras riquezas do continente), que precisa - e muito - da ajuda da Europa. Aliás, têm sido muito úteis e oportunas a disponibilidade e a generosidade de muitos organismos europeus de solidariedade que não se cansam em apoiar, em muitos domínios, os povos de África. Aliás, são sempre projectos que merecem aplausos. Mas esta campanha não pode ser de «sentido único» (só da Europa para a África). Deve ser uma cooperação completa e verdadeira. Para isso é indispensável que a parte africana, com humildade e dignidade, sem preconceitos nem ressentimentos, saiba dar ao Ocidente o bom que tem, num espírito de partilha. Apesar de serem conhecidos como «pobres», não é uma «barbaridade» assegurar que os africanos têm muito a dar no âmbito da cooperação e de diálogo entre culturas. Sendo povos portadores de um espírito de entrega, de partilha e de outros valores humanos, juntando o seu dinamismo missionário, fruto da sua sensibilidade e da sua própria experiência, é justamente neste contexto que encontrarão grandes «trunfos» que podem ser partilhados com os europeus. Não se trata de impor estes valores ou absolutizá-los. Mas sim, colocá-los ao serviço da missão, em abertura com o «velho continente», pondo-os em confronto com a realidade cultural do Ocidente, aceitando um diálogo franco e produtivo. Com isso, ninguém fica a perder; pelo contrário, todos ganham. Será pois, toda a humanidade a beneficiar dos efeitos de uma cooperação verdadeira, equilibrada, transparente e frutífera, onde os africanos erguerão, moderadamente, a sua «voz», marcando uma participação oportuna e positiva. É esta resposta que confirmará que o africano, apesar das sua limitações, tem valores humanos e outras potencialidades que podem valer muito para um diálogo com a Europa, na perspectiva da promoção de uma cultura do amor e da solidariedade, integrada no âmbito da cooperação.


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