Dossier

Xavier e Portugal

Pe. João Caniço
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Os frutos abundantes da evangelização de São Francisco Xavier devem-se, sem dúvida, à sua simpatia irradiante, à sua alegria constante e ao seu maravilhoso poder de adaptação. Mas não seriam tão surpreendentes sem o ambiente português, que o acolheu e amparou, desde o rei D. João III e a rainha D. Catarina, até aos governantes e vice-reis da Índia, capitães de portos, de navios e de fortalezas ou feitores de el-rei, mercadores, soldados e marinheiros, sem esquecer as autoridades religiosas e membros do clero secular e das ordens religiosas. São Francisco Xavier votou sempre a Portugal uma sincera e reconhecida amizade, afirmando-se "navarro por nascimento e português de coração". Dos 138 textos que dele conhecemos, 92 estão escritos em português e metade de outros dois também em português. Agradecia assim, não só o ter estudado em Paris no Colégio Português de Santa Bárbara e ter convivido e trabalhado dez meses em Portugal antes de partir para o Oriente, mas também o facto de ter tido todas as facilidades nas naus portuguesas. Reconheceu sempre Portugal como a sua pátria adoptiva. E os portugueses souberam corres-ponder, com admiração e devoção ao incansável missionário, mesmo já antes da canonização, em 1622. Este acto, contudo, veio consagrar a devoção e fortalecer a sua imagem, como exemplo da vida cristã mais perfeita. O facto de a Restauração Nacional ter ocorrido a 1 de Dezembro, véspera do dia comemorativo da sua morte (noite de 2 para 3 de Dezembro), confirmava que o Santo, embora navarro por nascimento, era "um fino português, no ânimo e no maior emprego dos trabalhos da sua admirável vida". Vai nesse sentido a célebre novena, pregada pelo Padre António Vieira, com os inspirados sermões "Xavier Dormindo e Xavier Acordado", que supõem já a expansão da sua devoção. A iconografia de São Francisco Xavier conhece em Portugal os seus mais altos expoentes, não só em esculturas, estampas e iluminuras com a sua imagem, vestido como missionário, empunhando a cruz, a bíblia ou a concha - acompanhado ou não do célebre caranguejo - mas também em pinturas, baixo-relevos, azulejos, peças de ourivesaria e outros géneros plásticos, representando factos miraculosos da sua vida. Foi obra de artistas portugueses a fixação da imagem do Apóstolo das Índias e Evangelizador do Japão, ao contrário de outros santos da mesma época, que foram objecto de obras de artistas ítalo-flamengos. Referimo-nos em especial a duas séries de obras: de André Reinoso, na Igreja de São Roque, em Lisboa (igreja da Casa-Mãe dos Jesuítas em Portugal) e de Manuel Henriques, na Sé Nova de Coimbra (Igreja do Colégio de Jesus). A partir de Goa, onde o seu corpo se mantém incorrupto, muitos portugueses, ao longo da nossa história, conheceram e cultivaram uma veneração muito especial por São Francisco Xavier. Veneração semelhante lhe é tributada também em Lisboa e Coimbra, com a "Calçada dos Apóstolos" e a "Couraça dos Apóstolos", ou em Setúbal a requerer o seu patrocínio, erigindo-lhe capelas e estátuas… Em todo o País, há paróquias, escolas, instituições sociais e entidades religiosas que invocam o seu patrocínio. Mas é na famosa "Novena da Graça" que o grande Santo tem centrada a sua devoção, como ele mesmo pediu, oferecendo-se como intercessor. São aos milhares, em Portugal e no mundo inteiro as edições de livros, folhetos, pagelas e simples impressos, com a biografia de Francisco e com o texto da sua famosa novena. João Caniço, S.J.


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