Editorial

A consciência como arma

António Rego
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Há um ano, por esta altura, estavam em estridente aquecimento os motores da lógica para a II guerra do Golfo. No rescaldo do 11 de Setembro e da guerra no Afeganistão, começava o grande debate público, primeiro sobre a decisão, depois sobre a oportunidade e, em simultâneo, sobre a questão, a frio, da legitimidade da guerra. O cidadão anónimo como que acordou para o clássico moralismo académico de dividir as guerras em boas e más. Novos elementos surgiram no tabuleiro mundial de forças, riquezas e valores dos povos, mormente na importância que ganhou a entidade mais capaz de representar os interesses de todos em matéria de paz que é, indiscutivelmente, a Organização das Nações Unidas, não obstante as suas fragilidades. Depois da II Guerra Mundial, ficou uma espécie de voto impresso no coração do planeta por um “nunca mais a guerra”, face ao indescritível rol de sofrimentos e humilhações que ocorreram durante o II grande conflito do século XX. Isto não quer dizer que em 1945, com a vitória dos aliados, acabaram as guerras no mundo. Todos fomos testemunhando e muitas gerações pagando com a vida, uma sequência trágica de conflitos nas lutas de independência, nos confrontos étnicos e nessa guerra sem título que foi o oceano gélido de opressão que ocorreu sob a égide da União Soviética. Algo de novo aconteceu este último ano. A questão da guerra desceu ao fórum popular, e com a sociedade da informação e comunicação em crescendo desabrido, subiu também de tom a controvérsia sobre os meios, a eficácia e a legitimidade. E, felizmente, o debate ainda não chegou ao fim. Quando alguns países pedem agora à ONU que pague a factura de uma guerra que recusou, novos elementos são lançados à opinião pública sobre o amontoado de contradições que sempre acompanhou uma batalha desconcertante antes, durante e depois de acontecer. É bom que as pessoas vão descobrindo o poder, o petróleo, os jogos políticos, estratégicos e económicos que se escondem por detrás de tantos discursos e decisões para cidadão ver. Não é legítimo criar uma moral elástica para proteger posições de esquerda ou de direita, nem para ser instrumento de campanha eleitoral ou de sustentação no poder. A crescente consciência dos povos é o grande dique contra as decisões caprichosas e oportunistas dos poderosos. A consciência é a grande arma do homem. António Rego


Reflexo