Editorial

A Constituição Europeia

António Rego
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Estaremos mesmo numa simples birra de religião, de sim ou não, na Constituição Europeia? Será que Deus fica mais ou menos louvado se o cristianismo for, ou não, referido como um dos elementos matriciais da Europa? Para quê abrir uma discussão tão alargada para uma frase tão curta? Poderíamos continuar a sequência interminável de perguntas. Fiquemos com estas, que bailam nos corredores da opinião pública, tanto cristã como agnóstica. Diga-se, antes de mais, que as Igrejas, com centenas de outras instituições e indivíduos, já se pronunciaram sobre o que deveria ser incluído na Constituição Europeia, não apenas como um conjunto de valores, mas como uma afirmação de princípio sobre as nossas raízes primeiras. Apesar de o judaísmo e o islamismo terem contribuições importantes para a constituição da Europa, o cristianismo constitui uma parte substancial, a par de outros movimentos filosóficos e culturais. A recusa francesa de referência ao cristianismo soube mais a ressabio ou complexo histórico, que a tentativa de objectividade. Romano Prodi tinha razão quando disse: “a separação das esferas políticas e religiosas não significa negar ou ignorar as religiões e os seus muitos crentes.” Convém não esquecer duas questões independentes: a referência ao nome de Deus na Constituição, como garante da liberdade individual (tão defendida pela Alemanha e pelos países que estiveram prisioneiros do bloco do Leste) – lá tem as suas razões, também por nós conhecidas; e a afirmação do cristianismo como matriz do todo da Europa. Aqui a evidência é irrefutavelmente histórica. Tal como afirmar que o judaísmo é integrante do povo hebreu. Ignorar isto não é blasfémia nem complexo: é um óbvio erro histórico. Mas que tem consequências gravíssimas na interpretação dos tempos passados e futuros. Uma frase tão pequena não é um apontamento de acta para que conste. É uma afirmação constitutiva de uma Constituição. É isso que está em causa. E não são apenas os cristãos que se devem interessar e lutar por essa identificação. É o puro reconhecimento de um facto histórico. As opiniões são livres. Os factos são sagrados. António Rego


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