A difÃcil arte de julgar António Rego 25 de Fevereiro de 2004, às 00:25 ... Mais vale um mau amanho que um bom juiz. Por amanho entende-se, na terra onde este ditado corre, o entendimento possÃvel, com perdas e ganhos, entre pessoas envolvidas num litÃgio. A procura do tribunal implica o pressuposto de reconciliação impossÃvel e, consequentemente, o recurso à lei, por incapacidade de solução pelo espÃrito. Além do ditado popular, note-se que, nos Evangelhos, o próprio Jesus, nas histórias que conta, dá a entender que o mais certo é evitar o juiz e resolver as contendas pela via do entendimento entre os beligerantes. Mas nenhuma sociedade dispensa uma instituição que defenda os direitos de todos, bem como exija o cumprimento dos deveres face à lei, que é como quem diz, face ao respeito, livremente aceite, de uma comunidade que partilha espaços e projectos comuns. E tem, na prática, o nome de justiça. A lei, cega e fria, sequência de fórmulas, enredada de articulados, urdida de subentendidos e artimanhas, reclamando-se de imparcial, não passa dum instrumento humano muito frágil, caindo quase sempre para o lado dos mais fortes. Os pobres não têm meios nem amigos para suportar longuÃssimas sabatinas, conversas de toga, tribunos de verbosidade mais que tribunais de justiça. A tudo isto acresce a monstruosa máquina de processos e papéis que raramente escapa aos vÃcios de indiferença perante as demoras, acumulações, insuficiência de meios e pessoas para realizar a justiça em tempo oportuno. E, como se sabe, à excepção da justiça de Deus, nenhuma justiça se faz quando não é oportuna, quando chega fora do tempo e do lugar em que deve acontecer. Arte nobre a do direito e da justiça na defesa de valores e pessoas que vivem em comunidade e aceitam as regras inscritas na natureza, mais os entendimentos e compromissos face à s pessoas e aos bens. Até há pouco mais de um ano, o cidadão médio português, não directamente implicado em questões de tribunal, vagamente sabia o que era e o que não era a justiça no nosso paÃs. A súbita torrente de informações para a praça pública, a quebra do segredo de justiça e segredos profissionais, trouxe graves embaraços ao manuseamento da justiça e veio revelar ao cidadão comum os escaninhos, subterrâneos e limitações dos nossos tribunais. No fim de tudo, possivelmente sai reforçado o dizer do povo: antes um mau amanho que um bom juiz… António Rego ...... Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...