A esperança como choque António Rego 21 de Junho de 2005, às 13:22 ... Há conjunturas que, por si mesmas, sem dramatizações polÃticas ou ideológicas, podem conduzir a uma espécie de depressão colectiva. A dupla insegurança - social e económica - exibida com maior ou menor razão nos últimos tempos, associada a um desaire europeu cujos efeitos reais ainda se desconhecem, parece ter colocado o paÃs numa cadeia de descontentamentos acumulados que começam a traduzir-se em manifestações e greves. Mudaram os posicionamentos de analistas perante um Governo que se movimentava, até há pouco, imune a crÃticas. Dum momento para o outro, parece estar contra todos, colocando o paÃs inteiro contra si próprio. A tudo isto se soma uma espécie de desgosto ou desencanto popular, perante tantos desaires polÃticos, recentes, que permitiram uma aberta de uma esperança irremissÃvel e sem margem de erro. Que agora parece em choque. A pergunta que se coloca é esta: trata-se dum estado de alma momentâneo, dum solavanco abrupto no barco que se endireita na próxima onda, ou de uma vaga de fundo que começa a aceitar, sem indulgência, a ideia dum paÃs ingovernável quando um Governo decide afrontar situações de instalados que tudo discutem excepto a hipótese de serem tocados nos seus privilégios? Emerge uma dúvida inquietante: se o que salva o paÃs é uma tenaz esperança ou, pelo contrário, uma descrença declarada sobre o rumo que o Governo vem a tomar. Por outras palavras: estamos perante uma encenação monumental de crises para justificar o choque de agravamento de impostos e penosas medidas sociais, ou com uma terapêutica de choque face à doença económica dum paÃs tecnicamente falido que já não sabe a quem mendigar? A Europa é o nosso continente e Portugal o nosso paÃs. Se não amarmos o que somos, não nos amamos a nós mesmos. E possivelmente é essa aprendizagem que importa assumir, reconhecendo o preço que isso acarreta para todos. António Rego Reflexo Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...