A estátua da consciência António Rego 29 de Abril de 2003, às 12:41 ... Uma coisa é certa: mais cedo ou mais tarde a poeira do tempo, por eterna que pareça, à cinza conduzirá tudo o que é vão. A estátua da consciência Quando os nossos olhos se passeiam por galerias de arte ou por museus de história, quase sempre nos apercebemos que não faz história quem quer. Ou melhor, não fica na história quem ergue o seu próprio monumento. Sabe-se mesmo que muitos dos que se gastaram na edificação do seu Ãcone, caÃram da forma mais banal na vala comum dos esquecidos mesmo que tenham lutado pela continuidade do seu nome a golpes de ouro, bronze ou pedra. Uma coisa é certa: mais cedo ou mais tarde a poeira do tempo, por eterna que pareça, à cinza conduzirá tudo o que é vão. Mais século menos século, dos heróis, uma réstia de imagem ou um rasto de mito apontará linhas perpendiculares ao tempo e à marcha dos povos. Os grandes marcos da mudança vão-se revelando cada vez mais como pertença colectiva e menos como iluminação solitária. Um olhar sereno sobre os factos revela a total inutilidade das desenfreadas corridas individuais pelo primeiro lugar nas maratonas da vida. O que realmente se é e se faz ganha a sua perpetuidade muito para além das pequenas vacuidades de efeitos fáceis, sem razões nem significado. Desilusão e amargura, sem a alegria de sentir nada construÃdo? Pelo contrário. Feliz de quem descobre estÃmulo e alegria em cada gesto, mesmo que destinado ao silêncio. É por isso que os heróis de qualquer revolução só podem encontrar a verdadeira alegria na praça da própria consciência e nunca no foguetório feérico que pode estalejar pela estátua de cera angustiadamente erguida. Todos os dias caiem estátuas nas grandes praças do mundo. A história dos heróis é muito mais profunda. É sempre uma surpresa e nunca o resultado de um cálculo. Dos falsos heróis não reza a história. E ninguém venera um santo que a si mesmo se coloca nos altares. António Rego Reflexo Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...