A fuga António Rego 29 de Julho de 2003, às 12:32 ... O homem, desde que se conhece, exprimiu as suas procuras, inquietações e carências através da mobilidade. Sentiu o imperativo de deixar a terra e peregrinar pelo desconhecido, no encalço do essencial para sobreviver, ou mesmo na sequência de um impulso semelhante a uma vocação transcendente, ainda que pouco clarificada.Com grandes êxodos, exÃlios e caminhadas errantes, se abriram novas páginas da história da humanidade e mesmo das grandes religiões. Há algo de mÃtico, mÃstico e inexplicável neste transpor de fronteiras, no encalço de um projecto desenhado, quantas vezes, pelo encontro da história do homem com a história de Deus. Esta errância aconteceu em ritmos diferentes e gerou um lento cruzamento de raças, culturas e religiões. Todos os povos, ainda que com uma identidade definida, têm sinais, riquezas e fragilidades de outros povos. As árvores genealógicas são quase sempre uma floresta inextrincável de ramificações onde se não consegue, a não ser por aproximação, perceber onde nascem e desaguam as grandes correntes da história. Simultaneamente o reconhecimento, posse e defesa do próprio território é, possivelmente, a causa mais visÃvel das guerras e conflitos, num misto surpreendente de apego e desprendimento. O tempo das férias costuma enquadrar a vocação genuÃna do viandante, como evasão do quotidiano, fuga ao cansaço do mesmo, tanto de lugares como de pessoas. E acontece que o novo é, por vezes, programado num circuito comercial puramente que repete, noutros locais, os mesmos tiques, esquemas, ementas e diversões. Resta como novidade única, a ausência da vizinhança convencional, controladora implacável de atitudes e procedimentos. A grande riqueza do peregrinar na história consiste na descoberta do novo e não na repetição do mesmo, noutro local. Os tempos que vivemos são propÃcios – o mundo está cada vez mais próximo de si mesmo – a uma descoberta fantástica de valores e riquezas de outras culturas e aquisições que fazem avançar a história. Nesse sentido, o tempo de repouso ganha uma dimensão profunda de descoberta de novos mundos e responde a uma vocação silenciosa que habita todo o ser humano. António Rego Reflexo Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...