Editorial

A glória de João Paulo II

António Rego
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A celebração do primeiro aniversário da morte de João Paulo II seguiu, por inteiro, o dinamismo pessoal e pastoral de Karol Wojtyla: exposto ao mundo do primeiro ao último momento, tão visível nas horas de brilho e festa como nos momentos frágeis no aspecto, no andar, no falar, no encontro com os povos, com os governos, as Igrejas, e com esse universo incontável de interesseiros que não quiseram perder a oportunidade de serem fotografados com o Papa como peça de currículo. Bento XVI expressou bem todo o percurso, acentuando o seu despojamento progressivo: “Nos últimos anos, o Senhor foi a pouco e pouco privando-o de tudo, para que a Ele se lhe assemelhasse. A sua morte foi o cumprimento de um testemunho de fé que tocou o coração de tantos homens de boa vontade”. Esteve em pleno na sua imagem, depois apenas no gesto e na voz como aconteceu na última Via Sacra a que presidiu na sua Capela particular onde nem o seu rosto foi mostrado ao público. O mundo seguiu o drama e a festa da vida deste homem que sempre vibrou ao ritmo das comunidades a que presidiu e à Igreja Universal que, como pastor, confirmou vigorosamente na fé. Dado o seu longo Pontificado, as últimas gerações já não se aperceberão inteiramente das mudanças e sobretudo do ritmo e estilo que ele imprimiu à Igreja no seu original pastoreio. Tudo mudou. Se o essencial é o mesmo, a forma de o apreender, transmitir e aplicar, altera-se com o tempo, as revoluções culturais, políticas, técnicas e religiosas. João Paulo II não é isento dos contextos da história na sua vida pessoal, nas perturbações da Polónia, da Europa, no choque da modernidade que ganhou uma explicitação e visibilidade nunca antes vistas, dos dramas de guerra e dos progressos de paz que nunca deixaram de acontecer. Este todo teceu o seu Pontificado a que imprimiu uma tónica particular. É mais fácil a homenagem que a análise objectiva e pedagógica para a Igreja e para o mundo. Por isso o esfumar-se do tempo ajuda melhor à percepção distanciada da realidade. Abre-se agora esse período. Da transição do afecto para a clareza dos factos. À frente dos quais está o próprio processo de beatificação que não é alheio a todo o itinerário do Papa Wojtyla. António Rego


Reflexo