Editorial

A guerra (química) ainda dura muito tempo?

Paulo Rocha
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Paulo Rocha, Agência ECCLESIA

Os conflitos armados que martirizaram o século XX estão nuclearmente ligados à Mensagem de Fátima. E as guerras que continuam a fazer mártires no século XXI parecem ainda mais relacionadas com os acontecimentos de há cem anos, na Cova da Iria.

Invocada como Rainha da Paz, Nossa Senhora pediu aos pastorinhos para rezarem o terço para que a Primeira Guerra Mundial, em curso na segunda década do século XX, terminasse. “Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra”. Pediu Maria às três crianças na primeira aparição, no dia 13 de maio de 1917; apelo que repetiu em julho, setembro e outubro. E, desde então, invocar a paz para o mundo, também a paz para o interior da comunidade crente, é uma insistência permanente no ambiente de Fátima e nos contextos em que se recria, em torno da imagem de Nossa Senhora.

Infelizmente, o início do século XXI torna mais premente a invocação pela paz no mundo. Há muitos focos de conflito, há sobretudo um, a decorrer na Síria, que solicita todas as orações, também neste centenário, para que o sofrimento que atinge mulheres, homens e crianças não se alastre sem escrúpulos.

No dia 13 de maio de 1917, Lúcia perguntou a Nossa Senhora: ‘Vossemecê sabe-me dizer se a guerra ainda dura muito tempo ou se acaba breve?’ Hoje, é dever de crentes e não crentes, de todos os que defendem o humanismo, perguntar: “a guerra química ainda dura muito tempo?”.

O que aconteceu na Sírias nos últimos dias não pode deixar indiferente o mundo inteiro, que tem de chorar consternado pela morte sem escrúpulos provocada por ataques químicos, cobardes, que matam pessoas indefesas, muitas delas crianças.

Na I Guerra Mundial morreram 1,3 milhões de pessoas na Europa, 90 mil das quais vítimas de armas químicas. De acordo com a Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), o conflito que decorreu entre 1914 e 1918 fica na história pelo uso em grande escala, pela primeira vez, de armas químicas, que continuou, apesar de acordos que o proibiam, como o de Genebra, em 1925, ou as convenções de 1972 e 1993. Em 1997, o início de funções da Organização para a Proibição das Armas Químicas e a entrada em vigor da Convenção das Armas Químicas é um passo decisivo para pôr fim a um enorme abuso do poder da técnica. Incapaz, no entanto, de proibir o seu uso efetivo.

Em 2013, morreram perto de 1500 pessoas na Síria, vítimas de armas químicas. A imagens desse ato horrendo permanecem na memória trágica da humanidade, atenuada pela atribuição do Prémio Nobel da Paz de 2013 à Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ).

Em 2017, o território sírio volta a ser atacado por estas armas mortíferas, vitimando mais de 80 pessoas e ferindo cerca de duas centenas. As consequências deste ataque foram mostradas em direto a todo o mundo. Mesmo assim, permanecem indiferentes muitos centros de poder e de decisão.

Lembrar as Aparições de há 100 anos é lembrar que sem a luz de Fátima permanecem as guerras sem fim! De facto, hoje é necessário continuar a perguntar, como Lúcia ‘A guerra (química) ainda dura muito tempo?’

Paulo Rocha



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