Editorial

A importância de acreditar

Octávio Carmo
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Octávio Carmo
Octávio Carmo

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

Acontece a muita gente, por estes dias de grande competição desportiva: mesmo quem não gosta particularmente de futebol ou não acompanha regularmente o fenómeno, vibra com emoção inusitada e (mesmo para os próprios) inesperada com os feitos e as desfeitas da seleção nacional. A identificação do país com uma equipa de futebol poderia levantar muitas questões, mas essa discussão é geralmente dispensada, face à noção de estar unido na busca da glória, para superar por um momento que seja a fragilidade do quotidiano.

“Acreditar” torna-se o verbo central de toda esta epopeia, que se vai repetindo com uma regularidade inédita nos últimos 20 anos (felizmente, porque eu cresci noutros tempos). Acreditar mesmo contra todas as evidências, esperar o “milagre” - sim, é uma linguagem familiar e remete para um universo religioso católico. Porque há situações em que nada o substitui. E o futebol também se vive entre a crença e a descrença, entre a dúvida e a certeza.

Deixo uma nota final para o debate em torno do arremesso de microfone que marcou a quarta-feira. Estou certo de que as duas partes irão explicar as suas razões em tribunal e aguardo por elas. Até lá, além da crucifixão - lá voltamos à linguagem religiosa - do máximo expoente do futebol português, interessará mais refletir sobre o papel de quem informa. A informação vive de factos. Não compete ao jornalista “provocar” uma notícia, o que é diferente de procurar e investigar.

Já aqui me referi ao facto de o mundo mediático em constante mutação ter vindo a fazer cada vez mais do conteúdo informativo uma forma de entretenimento passageiro. As próprias opções editoriais são condicionadas por este novo mundo, em que o jornalista desiste do seu papel de mediador e procura ser cada vez mais o protagonista. Resta acreditar que o bom exercício da profissão se irá sobrepor sempre às eventuais falhas e que o público saberá procurar os meios mais credíveis para permanecer informado.

Octávio Carmo

Octávio Carmo

Agência ECCLESIA



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