A meio da ponte
Paulo Rocha, Agência ECCLESIA
Parar é a pior opção para quem está a meio de uma ponte. Percebe-se a turbulência, acentuam-se os ventos, emerge o abismo. E sobretudo cresce a incerteza, o pânico mesmo.
Esta imagem é o horizonte do debate sobre a imprensa, nomeadamente a de inspiração cristã, proposta pelo X Congresso da AIC, Associação de Imprensa de Inspiração Cristã, quando está a celebrar 25 anos de história.
Há décadas ou mesmo há um século, o contexto político e social declaradamente adverso fez surgir muitos títulos, deu criatividade e dinamismo aos seus promotores e colaboradores e criou um setor relevante na comunicação, nomeadamente na imprensa: os jornais locais. Neles também se inscrevem muitos projetos editoriais ligados a instituições da Igreja Católica, agora a celebrar 100 anos de história. São jornais centenários que confirmam a importância da imprensa de inspiração cristã noutros tempos, tanta que provoca nostalgia naqueles que não ficam indiferentes à diminuição da relevância de projetos editoriais diante da emergência de um novo modo de comunicar: estão a meio da ponte.
O novo ambiente mediático não vem, no entanto, ditar o fim de boas ideias do passado, antes desafia à reconfiguração de muitas delas, em sintonia com o contexto comunicacional deste tempo. Como em tudo na vida, também neste setor não é possível ficar parado, numa atração passiva do pânico provocado pelo precipício. Há que andar, de uma margem para a outra, com ousadia e realismo.
Em todo este processo, a acentuação foi colocada com frequência nas dinâmicas empresariais em mudança, que afastam as receitas seguras de outros tempos e geram novos gastos. Certos de que essa transformação está a acontecer, é cada vez mais urgente colocar o foco na reconfiguração editorial, a respeito da produção e distribuição de conteúdos, que afaste desencontros com lugares e hábitos dos públicos de hoje, mais fornecedores do que consumidores de comunicação. E num estilo novo.
O X Congresso da AIC, que assinala os 25 anos da Associação, pode marca um ponto de viragem. Haja vontade para não permanecer no meio da ponte…
Paulo Rocha
Comunicações Sociais