A venda do sagrado António Rego 30 de Setembro de 2003, às 13:06 ... Comunicação e imaginação tornaram-se, nos últimos tempos, duas sócias inseparáveis no hipermercado dos media. Jornais, rádios e televisões só sobrevivem se conseguem vencer os empastelados de relatórios, comunicados, discursos reiterativos, ou mesmo transformar as grandes peças de erudição em temáticas acessÃveis, próximas do cidadão médio ou do médio consumidor de comunicação social. Em teoria, o cidadão médio é superior, no seu processo de intenções de consumo de comunicação. Na prática sabe-se, de ciência certa, que as classes consideradas mais altas são quem sustenta, por adesão ou inércia, os media de maior tiragem e audiência… e de menor qualidade. Acontece que a imaginação não está apenas na textura das linguagens, mas também nas estratégias de sedução do consumidor e nas técnicas de venda. Aqui se enquadra todo o sistema de truques para vender livros, jornais e revistas, por exemplo. Talheres, castiçais, loiças, medalhas, filmes, e até objectos religiosos, vão à frente no engano do leitor e só depois, como inevitável, vem o produto comunicacional propriamente dito. Ou seja, compra-se o rabo que traz o gato em anexo. Percorrendo as livrarias, mesmo as de maior sisudez intelectual, vamos encontrar uma série interminável de volumes esotéricos, escondendo pudicamente dizeres de astrologia barata, religiões de A a Z com misturas de encantamento, adivinhação, milenarismos, macumbas, e toda a classe de esoterismos, num terreno impreciso e arbitrário, quantas vezes a par de uma gritante ignorância religiosa. “A religião vendeâ€, diz-se na gÃria de mercado. Chegamos assim a um ponto delicado: o dos objectos religiosos que têm necessariamente um custo de produção mas se não podem confundir com atractivos de feira, de tal maneira que se misturem com objectos promocionais de qualquer centro de venda. A relação que se estabelece com um sÃmbolo ou representação religiosa não pode confundir-se com a cegueira do mercado que muitas vezes não olha a meios para atingir os seus fins. Não é legÃtimo, a nenhum tÃtulo, mercantilizar o sagrado. Por respeito para com o homem que se relaciona com o religioso numa dimensão profunda e transcendente. António Rego Reflexo Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...