Editorial

Afinal estavam inocentes...

António Rego
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Afinal estavam inocentes… Por causa da paz se faz a guerra, também de opiniões. No III milénio, a América faz de América e o Iraque, Sadam, faz de Soviético. E tal como nos anos sessenta, também hoje não é possível dissociar-se a reflexão sobre a paz, do quadrante ideológico a que se pertence. Mas algo de novo acontece neste dealbar do milénio: o surgimento de uma nova geração de pacifistas que não tem receio de assumir esse nome e essa condição. E que não está filiada em qualquer bloco anti-petrolífero. Obviamente que Fidel deve estar do lado de Sadam apenas por este ser contra os Estados Unidos. E mais casos haverá de pura repugnância pela bandeira das 50 estrelas. Mas a maior parte dos actuais movimentos de Paz, são apenas isso mesmo. Gritos de paz. Apenas contra o absurdo da guerra como solução de conflitos. Parece positivo o relançamento do debate livre e frontal sobre a paz, mesmo quando algum manifesto se revela de forma mais panfletária que académica. Um protesto não é um tratado teórico ou estratégico sobre o direito. É isso mesmo, um género literário claro, rápido e forte, que exprime uma opinião inequívoca sobre uma questão concreta. A causa da paz parece, neste caso, perdida. Mas, mesmo que perdida esta batalha, não está perdida a guerra contra a lógica febril das armas, da potência e prepotência dos senhores do mundo. O Episcopado dos Estados Unidos acaba de aplaudir publicamente a decisão do Governador de Illinois em comutar a pena de morte dos 156 condenados do seu Estado. George Ryan tomou a decisão quando se deu conta de que, desde 1977, 13 executados com a pena capital, afinal, estavam inocentes. Foi tarde demais. Uma guerra mata sempre muito mais que 13 inocentes. António Rego


Reflexo