Editorial

Boas notícias ou boa notícia?

Paulo Rocha
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Paulo Rocha, Agência ECCLESIA

A Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se assinala em cada ano no sétimo domingo depois da Páscoa, da ascensão na liturgia católica, remete os debates em torno da mensagem proposta para este ano por Francisco para o segmento das “boas notícias”. Mas a proposta do Papa vai muito além de uma catalogação simplista.

“Comunicar esperança e confiança, no nosso tempo” é o ponto de partida de Francisco para desafiar utilizadores dos media e produtores de conteúdos à possível conversão de “qualquer novo drama” numa “boa notícia”. Claro que o Papa exorta a uma “comunicação construtiva”, que “promova uma cultura do encontro”, que vença o círculo vicioso da angústia” e que seja capaz de “deter a espiral do medo”. Mas não incentiva à “desinformação”, à indiferença diante do “drama do sofrimento”, nem à promoção de um “otimismo ingénuo”.

A leitura da mensagem do Papa tem de ter em conta, desde logo, que o Papa nunca se refere a “boas notícias”, mesmo afirmando que as notícias “podem ser boas ou más, verdadeiras ou falsas”, dependendo do “material” que os comunicadores fornecem. Francisco fala antes em “boa notícia”. E insiste nesse singular, esclarecendo que só há uma “boa notícia”: “é o próprio Jesus”. E é nesta distinção que encontramos o centro de uma mensagem dirigida não só a comunicadores, mas a todos, porque todos nos movemos no ambiente mediático que nos habita.

Se a celebração do Dia Mundial das Comunicações Socais, que acontece anualmente desde 1967, é com frequência uma oportunidade para apontar estratégias de comunicação, para definir apostas para quem trabalha no setor, seja em meios generalistas, seja nos temáticos, de pertença ou não a instituições, o Papa coloca este ano o desafio no paradigma de vida por que se deve pautar o perfil de consumidores e produtores de conteúdos. Não faz considerações sobre o profissionalismo, sobre o digital ou o momento do desenvolvimento tecnológico. Antes indica a chave hermenêutica, os “óculos adequados”, nas palavras de Francisco, para olhar a realidade, as circunstâncias do dia-a-dia.

E aqui está o segredo para quem deseja ser autor de um projeto mediático e sobretudo para os muitos utilizadores das várias propostas. É a escolha dos “óculos adequados” que determina a opção pela “boa notícia” ou por produtos sucedâneos dessa Boa Nova libertadora e está na origem de sentenças avulsas sobre o prezado mundo dos média: tanto as que motivam presenças nos meios de comunicação social por vezes próximas de um “tribalismo” perigoso que julga todos os próximos; também as que determinam impulsos para aventuras pessoais nesse contexto, que raramente têm outro fim que não seja o consumo de energias e recursos inconsequentes, porque esquecem o fim exclusivo de todos que é servir os públicos; como também, e sobretudo, as que determinam a capacidade de escrutínio sobre o que passa nos media e é bom ou mau. E essa, ao alcance de todos, e é a primeira e a principal forma de definir grelhas de programação, alinhamentos de telejornais ou manchetes de edições matutinas.

Um tema da “tribo” dos media que é cada vez mais de todos. Porque as decisões da “tribo” dependem cada vez mais da escolha de cada um.

Sendo assim, esquecemos a possibilidade de ter boas notícias? Não! Procuremos a “boa notícia” e teremos todas as “boas notícias”!

Paulo Rocha



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