Apesar de na gíria teológica se usar frequentemente a expressão “economia da salvação” como – traduza-se -“plano estratégico de Deus para a salvação de todos”, raramente acreditamos no casamento entre economia e comunhão. Vemos até uma espécie de antagonismo, se pensarmos na economia como concorrência, competitividade, lucro máximo, investimento em direcção ao indivíduo. Comunhão, pelo contrário, sugere a direcção do outro, algum “esbanjamento” dos teres e haveres do eu para distribuir em plural, na união comum de esforços e afectos que se não traduzem habitualmente no reforço de celeiros ou na engorda calculada de lucros e benefícios.
Afinal, “economia da salvação” e “economia da comunhão” podem ter muitos pontos em comum. Há mais de dez anos que esta expressão tem inquietado alguns empresários, por proposta de uma mulher marcante do nosso tempo, pelos seus esforços ecuménicos e pelos arrojados desafios que tem lançado para uma vivência de comunhão e fraternidade do nosso tempo. Trata-se de Chiara Lubich, fundadora do movimento dos Focolares que, ao longo dos anos, tem alargado perspectivas de empenhamento muito próximas das rápidas transformações do nosso mundo.
A ideia da “economia de comunhão” é uma espécie de La Palisse da fraternidade e até da justiça: as empresas não existem apenas para recolher lucros, mas também para os distribuir. Trata-se de uma economia de partilha a que já aderiram oitocentas empresas dos cinco continentes. Em concreto, investem para o desenvolvimento, difundem uma cultura de distribuição e apoiam as pessoas em dificuldades económicas. Ou, se quisermos: o lucro volta-se para fora dos muros da empresa e não cai sempre no mesmo saco. Chiara Lubich ao intervir num recente Congresso Internacional sobre economia, em Castelgandolfo, teimou em repetir que “trabalhar é transformar em amor o que sai das mãos”. Foi o regresso da velha senhora a um tema que sempre a projectou no terreno da “utopia” possível, contra o deserto de múltiplos desencantos. O seu olhar sobre situações clamorosas de pobreza na cidade brasileira de S. Paulo, levou-a à proclamação desse projecto que hoje tem sinais vivos de realidade: gerar uma economia de comunhão.
António Rego