O mês de Junho abre sempre com grande ruído de feriados municipais e nacionais e com todo o vigor tradicionalista dos Santos Populares, mais absorvidos pelo folclore e pelos apêndices adquiridos ao longo do tempo, do que pela contemplação objectiva da “vida e obra” de figuras tão importantes na história do cristianismo como S. Pedro, S. João e S. António de Lisboa.
Mas o início do Verão é também tempo predominante das ordenações e celebrações sacerdotais. Isso significa, na vida da Igreja e do mundo, a consagração por inteiro de pessoas à causa do Evangelho, o ponto de chegada e de arranque de muitos jovens que um dia se sentiram chamados por Deus, tocados em profundidade pelo Espírito e responderam, com verdadeiro ímpeto de generosidade, a uma vida muito própria de entrega a Deus e aos outros. É um acontecimento teológico e pastoral de grande alcance que urge lembrar e exaltar nas nossas comunidades. O Sacerdócio não é um início de carreira eclesiástica na procura de pontos propensos à recepção de títulos, dignidades ou benefícios. O que de mais genuíno comporta é a entrega, o serviço e a coragem de se fazer timoneiro no barco de Deus. Não é fuga de nada nem de ninguém. Não é abandono ou mágoa do mundo. É dádiva, na imitação possível de Jesus, na convicção de que Deus amou de tal forma o mundo que lhe enviou o Seu Filho. Esse chamamento é habitualmente escutado na juventude, tempo de primeiras paixões, de dádivas mais extremas e coração mais livre. Por estes tempos muitos celebram Bodas Prata ou Ouro desse dom e desse gesto radical. A Igreja está, por isso, em festa.
Por estes tempos também, se vem cruzar o Jubileu do próprio Papa e do Cardeal Patriarca de Lisboa que ora preside à Conferência Episcopal Portuguesa. É uma festa do sacerdócio, como a de tantos, humildemente escondidos, que continuam no barco a puxar pelos remos, embora de braços já cansados.
Esta festa também interpela à coragem os cristãos mais jovens para renderem aqueles que, no lago, há muito, dobram difíceis ondas por onde o mundo e a Igreja navegam. Até ao fim dos tempos.
António Rego