Flores de Páscoa António Rego 22 de Abril de 2003, às 15:26 ... Flores de Páscoa Facilmente somos levados a dividir os objectos, as palavras e até as pessoas, em úteis e inúteis, de rendimento máximo, mÃnimo, ou nulo. Com esta medida vamos atravessando as ruas, comprando coisas, escolhendo caminhos, seleccionando pessoas. O prático, imediato, agradável e fácil andam em todos os rótulos que pretendem vender-nos qualquer esperança, alegria ou mesmo ideal. Barato, automático, natural, confortável, são rótulos obrigatórios de qualquer produto apetecÃvel. Percebe-se que a história do progresso humano conduza à descoberta de caminhos mais acessÃveis a todos, a novos passos que vençam dores, doenças e dificuldades. Longe vai, e bem, a teoria do sacrifÃcio fechado em si mesmo como sinónimo de ascese, como se a cruz não tivesse sido ultrapassada pela ressurreição e a morte não tivesse sido vencida pela vida. A caminhada da humanidade faz-se nesta dualidade complexa, nunca resolvida e, todavia, marcada por uma esperança teimosa contra todas as aparentes vitórias das trevas sobre a luz. Podemos andar excessivamente batidos pela teoria do caminho fácil, da porta larga como via de acesso à concretização do último grande sonho do homem. O tempo pascal é um luminoso caminho de Emaús que percebe o significado dos medos e das dores e a chave de todas as contradições. Por isso a celebração da Páscoa de Jesus vai muito mais longe que os folclores de flores artificiais e amêndoas de marca. É um percurso interior que toca discretamente a profundidade da vida e da morte que sempre rondam o coração do homem. António Rego Reflexo Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...