Editorial

Ilusões mediáticas

Octávio Carmo
...

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

Mαταιότης ματαιοτήτων, τα πάντα ματαιότης

As palavras de ‘Qohélet, filho de David, rei de Jerusalém’, que dão início ao livro bíblico do Eclesiastes – “Ilusão das ilusões, tudo é ilusão”, numa tradução livre - são uma lição perene sobre a transitoriedade da vida terrena e, para mim, um alerta contínuo.

Todos os dias somos confrontados com a busca do novo, do diferente, do inédito, muitas vezes em sacrifício de uma busca mais fundamental, a da verdade. Numa era mediática, esta sensação intensifica-se: ao longo dos últimos dias, assistimos a um verdadeiro corrupio em volta da hierarquia católica em Portugal, com corridas à manchete, especulações e factos em misturas desvariadas, sem que muitas vezes se definam claramente as fronteiras entre informação e mexerico.

A ‘novelização’ da informação relativa à Igreja poderia gerar nos seus responsáveis a ilusão de que o interesse mediático sobre a instituição está a aumentar, mas permito-me discordar dessa leitura: mais notícias não são, necessariamente, melhores notícias. O velho ditado de que não há “má publicidade” está longe de confirmar-se, neste caso.

A preocupação principal deve passar, do meu ponto de vista, por potenciar o interesse mediático para centrar a atenção na mensagem que se quer transmitir. Dando como exemplo o caso do novo Papa, grande parte da chamada “boa imprensa” de que goza atualmente resulta do facto de se escrever sobre o que Francisco diz e faz em vez de se procurarem intrigas, jogos de bastidores ou fontes anónimas que, muitas vezes, usam os jornalistas para atingirem os meios a que se propõem sem que estes sequer se apercebam, fascinados que estão pelo “furo”.

Quem faz tudo por uma boa “novela” para vender jornais ou ganhar audiências não vai parar: procurará outra história, esquecendo até os novos desenvolvimentos da primeira, e assim sucessivamente, tentando antecipar-se aos concorrentes e, lá está, sacrificando a verdade, se necessário.

Há demasiada ilusão mediática, neste tempo em que as fronteiras se diluem e os comunicadores se demitem progressivamente do seu papel de mediação, num momento em que essa função é mais necessária do que nunca. Como dizia Bento XVI, “o que hoje é muito moderno, amanhã será velho”. Inevitavelmente.

A busca da novidade pela novidade está condenada à derrota porque é em si transitória, ao contrário do que acontece com a busca da verdade. Só esta resiste à ilusão das ilusões.



Comunicações Sociais