Editorial

Jornalinho

Paulo Rocha
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Paulo Rocha
Paulo Rocha

Paulo Rocha, Agência Ecclesia

«Jornalinho» não é um nome de qualquer órgão de comunicação social, que conheça, nem o qualificativo de um projeto editorial da nossa praça. Trata-se de um apelido popularmente atribuído a uma pessoa de uma aldeia que me é muito próxima, em virtude de cumprir como ninguém o «passa a palavra» de qualquer dito ou feito.

De facto, quando acontece o inesperado ou chega alguém de fora ou de novo rapidamente a notícia se espalha por toda a região, com mais ou menos rigor, a partir da capacidade de valorizar um ou outro aspeto. Mas a comunicação acontece e normalmente com a verdade que deriva do desconto naturalmente feito por quem escuta, pois conhece bem o meio de divulgação da mensagem.

Qualquer meio de comunicação social atua como este «Jornalinho»: Amplifica o novo, o inesperado ou o aspeto de um acontecimento que possa gerar mais surpresa. Mas com uma diferença: Os recetores absolutizam facilmente o que se lê, vê ou ouve porque é dito - e bem - por um poder, o da comunicação social, sem incluir na valorização da mensagem o modo de funcionamento do meio que a suporta.

Em causa não está a afirmação de que pelos media não passam verdades. Por certo que sim, sendo apenas necessário reunir as várias transmissões da verdade para conseguir uma aproximação à verdade de um acontecimento. O que depende do recetor, não de meio de comunicação, que se move em ferramentas e gramáticas próprias. Elas comparam-se sempre ao «Jornalinho», à comunicação interpessoal que naturalmente fixa um aspeto, valoriza outro e pode também esquecer alguns fundamentais.

Em democracia, cada «ator» tem um papel específico. Os media também. E não é, por certo, servir de propaganda nem de refúgio a qualquer um dos outros.

O ambiente da existência e da sociabilidade acontece atual e espontaneamente com os media - e muito bem -, com incidências permanentes em factos tão distantes como uma epidemia ou uma descoberta científica, o pobre no abrigo de uma porta ou agitação de qualquer bolsa, o infeliz falecimento num serviço de urgência ou o custo de tratamentos que dão vida. Tudo preenche a ágora mediática em que habitamos, emissores e recetores, hoje cada vez mais em alternância constante.

Nestas circunstâncias e numa altura em que Portugal e a Europa redefinem o futuro próximo, afirme-se o valor imprescindível dos media, nomeadamente quando denunciam (alguns) episódios que afetam a dignidade da pessoa humana. Depois, e em prol da mesma dignidade, que não se instrumentalize a comunicação social na procura, analise e definição de programas de atuação nos diferentes setores da sociedade. Porque a lógica mediática não recria o ambiente de «laboratório» necessário para pensar e definir estratégias de vivência em sociedade na saúde, na educação, na economia, na política, na religião... Em todos o setores do conviver entre pessoas.

Em democracia, cada «ator» tem um papel específico. Os media também. E não é servir de propaganda nem de refúgio de qualquer um dos outros.



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