Mercenários da morte António Rego 04 de Novembro de 2003, às 12:44 ... Como é sabido, em muitos paÃses do mundo, a segurança social está em falência técnica. A razão é simples: desce estrondosamente o número de (jovens) contribuintes, e sobe o número de (idosos) beneficiários. Os próximos 30 anos - dizem os peritos - onde o desequilÃbrio dos que nascem e dos que envelhecem é abissal, vão ser anos de morte. Assim sendo, a morte toma outros contornos na observação social, para além das leituras da Fé. Poetas, santos, artistas que, séculos atrás, não passaram dos vinte ou trinta anos (média de vida calculada da Idade Média), tanto deixaram por fazer e dizer, pelo simples facto de que a vida era decepada por epidemias ou doenças isoladas, hoje vencÃveis se, sobretudo, detectadas a tempo. De qualquer modo, a longevidade não significa eternidade. Não foi nem será encontrado o tal elixir, a fórmula de vida interminável, a não ser nos parâmetros de Fé e na passagem à eternidade, única vencedora de todas as efemérides. Até aÃ, tudo o tempo corrói. Mas importa olhar os novos comportamentos face à morte. A celebração cristã ritualiza duma forma quase festiva, sentindo e aceitando a saudade da separação, mas afirmando na Fé o reencontro noutro cais, inquebrantável e perpétuo, pela ressurreição. Mas uma espécie de indústria da morte, altaneira e vitoriosa, se instala, na certeza de que o mercado vai crescer e importa trabalhar os sentimentos da clientela de forma a que todo o aparato fúnebre se revista de ilusão, com caracterizações, vaidades, ambientes, panegÃricos, em competição com os grandes eventos sociais. A homenagem aos mortos foi o primeiro grande sinal da racionalidade do homem. Nenhum animal foi capaz de ritualizar a morte. Nenhuma cultura ou religião a menospreza. Mas há estranhos rituais, entre magia e comércio, que ameaçam a dignidade e a transcendência da passagem misteriosa do homem para as mãos de Deus. Os cristãos são pioneiros do anúncio de ressurreição a partir da morte de Jesus, e têm todo o direito a defender o gesto genuÃno de sepultar os mortos. Toda a imagética das Catacumbas ensina a esperança e a dignidade da passagem à eternidade. Importa não cair na armadilha dos mercenários da morte. António Rego Reflexo Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...