Natal da crise e do consumo António Rego 11 de Dezembro de 2007, às 10:29 ... Para quem está de fora, a festa pode parecer um desperdÃcio. Vê chegar o irmão mais novo e acha que o pai perdeu a cabeça nas suas tolerâncias e até no esbanjamento das economias domésticas necessárias a toda a famÃlia. Depois, os exageros de mandar matar o melhor novilho, com música e vinho à farta, no esquecimento total da austeridade do outro filho. Mas há também os que se banqueteiam todos os dias com finÃssimos manjares, sem festa nenhuma. Embriagam-se nos seus luxos e desbaratos erguendo por tudo e por nada taças de bebidas especiosas que nem sabem a nada por se usarem a tempo e fora de tempo. Vendo e ouvindo as publicidades natalÃcias fica-se com a sensação de que os novos inebriantes digitais, de máquinas, música e imagens desarrumam completamente a cabeça de adultos, jovens e crianças, lançando todos numa concupiscência descontrolada de possuir e rejeitar para voltar ao mesmo com cara reciclada. Numa parafernália de jogos e concertos que acompanham todos os passos em sobrecargas de informática e tempos livres como reforço de individualismo e solidão. Por outro lado a economia não descolaria milésimas se os criadores de objectos não tivessem que produzir e multiplicar, se os vendedores não tivessem quem comprasse, se o novo permanecesse intacto sem reciclagem nem substituição. O mercado, os bens e serviços, a organização dos povos não saberiam como permutar os seus bens para que todos tivessem acesso ao pão essencial. Se olharmos com atenção para os centros de produção e distribuição de hoje veremos que todas as regras tradicionais de compra e venda, produção de subsistência, se alteraram. Estamos todos num grande barco, dependentes uns dos outros, sem se saber bem a quem cabe a primeira e última palavra sobre os bens da terra que, segundo a vontade do Pai do Céu, a todos se destinam. Celebrar o Natal, fazer a festa, entra, naturalmente, neste grande capÃtulo da alegria, do gratuito partilhado em ternura e doação, lembrando o Menino que há dois mil anos veio dar uma grande volta à história, remexendo profundamente o coração dos homens. E porque foi recebido por alguns como Filho de Deus, abriu um novo capÃtulo do encontro do humano com o Divino. Como é sabido esse menino deu a vida por uma causa. E essa causa somos nós. Melhor dizendo, todos nós, do primeiro ao último ser humano que habitou e habitará a face da terra. A festa do Natal é mais que uma tradição ou uma exigência do mercado. É mesmo uma festa. E isso lhe basta. António Rego Reflexo Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...