Novo Mundo, mundo novo
Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
Uma maratona de oito dias e 25 mil quilómetros levou o Papa Francisco à sua América Latina, com passagens pelo Equador, Bolívia e Paraguai, para gritar mensagens centradas na necessidade de mudança, nos pobres e na força revolucionária da fé. Mais do que programas políticos, foram lançados desafios de humanização e cristianização de uma sociedade presa a vícios e estruturas que violam os direitos fundamentais de milhões de pessoas.
A digressão pastoral deixou fortes marcas numa região que é hoje, em termos percentuais, o coração do catolicismo. Ali, a Igreja é chamada a estar ao lado dos mais fracos, de forma concreta. Este é um convite que o Papa soube deixar, com palavras e sobretudo com gestos, numa viagem que vai ficar para a história, com visitas simbólicas a bairros pobres, prisões, hospitais ou lares de idosos, tendo como pano de fundo a dignidade humana e a capacidade de a mensagem cristã inspirar cada ser humano, mesmo quem está fora da Igreja.
A América Latina representou mais uma confirmação do que um começo. Francisco foi igual a si próprio: chamou ao diálogo, à unidade na diversidade, à superação dos conflitos, à consolidação da democracia, à construção de uma sociedade mais justa. Condenou a corrupção, as desigualdades sociais, e num discurso a movimentos populares insurgiu-se com veemência contra o atual sistema económico e financeiro mundial.
O Papa convidou a valorizar as diferenças e fomentar o diálogo e participação de todos, sem exclusões, deixando de lado protagonismos e tentações de lideranças únicas, uma mensagem que se estende a outras regiões do mundo, para que todos se comprometam na construção duma sociedade mais justa e solidária, respeitando a diversidade cultural e étnica, no combate a lógicas de desespero e descarte dos mais frágeis.
Uma das criações desta viagem foi a denúncia da «espiritualidade do zapping» que leva as pessoas a mudar de canal, gerando indiferença face ao sofrimento alheio: Síria, Nepal, Mediterrâneo, Estado Islâmico, «Grexit» - para falar apenas nos mais recentes - todos os «dramas» se vão sucedendo e afastando, sem que gerem um verdadeiro movimento de transformação.
Francisco voltou a conquistar os corações com a sua simplicidade, determinação e ações concretas, como o facto de se deslocar num carro de gama média, em contraste com os veículos utilizados por outros responsáveis internacionais.
O primeiro Papa da América Latina apresentou uma fé comprometida com os últimos e propôs a globalização da esperança. O apelo a uma mudança de estruturas leva em consideração não só o clamor dos pobres mas também o dos próprios países ditos desenvolvidos, afetados pela tristeza e a solidão. O «Novo Mundo» pode ser o ponto de partida para um mundo novo e Francisco não tem medo de assumir a liderança deste processo.
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