O aborto como pretexto António Rego 02 de Maio de 2007, às 11:21 ... Que tipo de deserto atravessamos? Uma faixa intermédia entre a crise e a esperança? Uma tempestade avassaladora com dunas intransponÃveis, nuvens opacas, planÃcies abrasadoras? Que terra vem a seguir, que refúgios se avizinham, que oásis se vislumbram? Que sombra ou que sol nos virá visitar? Há quem pense que não estamos em nenhuma crise. O discurso da crise - dizem - é duma potestade espiritual e religiosa ressentida com a perda de influência na vida social, cultural e polÃtica, ou resultante dos discursos gastos sobre a fé e a moral. Pelo contrário – acrescentam - o mundo está melhor que nunca, autónomo, livre, liberto enfim, dos moralistas que nada entendem do que está a nascer de novo. O laicismo é o triunfo sobre todos os obscurantismos que durante milénios assolaram a história, deixando rastos de traumas e depressões oriundas de leis estreitas e cruéis. A crise é uma invenção dos perdedores desta batalha. Por estas e por outras palavras vamos ouvindo um pouco de tudo isto. E sentindo que estes pressupostos, ainda que não ditos deste modo, vão gerando um novo discurso social e cultural. No nosso caso concreto, tendo como pólos a Igreja Católica e a moderna sociedade laica. Possivelmente o Referendo sobre o aborto foi uma fronteira de referência deste novo credo. Que é, antes de tudo, ambÃguo e interesseiro. Pertence a um grupo estreito que grita em diferentes megafones mas não representa, como se faz crer, a comunidade, a história e a alma do povo a que pertencemos. O Referendo sobre o aborto, com todos os equÃvocos com que foi lançado (e continuado nos despachos sinuosos da Presidência da República e nos malabarismos retorcidos do Governo) não é, possivelmente, sintoma da viragem que se alardeia na comunidade portuguesa. Mas é um acontecimento que merece reflexão serena, sem traumas nem conclusões aceleradas. O debate dos jornalistas com D. Manuel Clemente e D. Carlos Azevedo, no lançamento do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais, sobre este e outros temas, pode ajudar a melhor estabelecer a relação Igreja - Mundo, no terreno concreto que pisamos. Onde todos temos a aprender com o ontem e com o hoje. António Rego Reflexo Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...