O agente secreto António Rego 21 de Fevereiro de 2006, às 13:14 ... Não convém alarmar a população. Porque uma população em pânico é um povo vencido antes do começo da batalha. Sempre assim foi. As pestes que dizimaram Atenas e Siracusa alguns séculos antes de Cristo, ou a que S. Cipriano, bispo de Cartago, descreve minuciosamente, e que devastou o Império Romano, bem como muitas outras que ceifaram abruptamente milhões de vidas, são bem a prova de que a vida humana está cheia de surpresas e ameaças. A cidade da vida é frequentemente invadida por estranhos exércitos que instalam o "triunfo da morte", como tão brutalmente expressou Bruegel num dos seus quadros. Como que dando razão a Darwin, na luta cega que o cosmos trava, deixando sempre o campo aberto aos mais fortes. A medicina ainda não canta vitória sobre a morte. Vão-nos chegando notÃcias avulsas sobre a gripe das aves que, de momento, parece ameaçar mais a economia que as pessoas. As aves, muitas, coitadas, nasceram e cresceram em espaços mÃnimos, quase sufocadas, sem direito a terra ou passeio, para que rapidamente engordem e se tornem rentáveis após breve passagem pelo matadouro. Mas tornaram-se em muitos locais numa indústria imprescindÃvel à moderna lógica alimentar. Os estudiosos de migrações vão tentando, nos homens e nos animais, adivinhar percursos que se tornem corredor fácil de agentes contagiosos. De pouco nos serve podermos voar velozmente dum ponto ao outro do planeta. Não temos para onde fugir, porque atrás de nós há sempre um perigo. Os peritos, correndo riscos pessoais lutam afanosamente para identificar e erradicar o agente secreto que pode tornar-se gerador dum contágio generalizado. Todas as grandes epidemias tiveram nos médicos e socorristas as primeiras vÃtimas, na sua luta pela vida dos outros. Estamos perante um complexo número de elementos que não devem ser nem minimizados nem convertidos em alarme. Já sabemos que a prevenção é a melhor resistência para as hipotéticas tragédias. E compreender, em seguida, que este é o preço de estarmos vivos. Na espiritualidade cristã surgiram muitos momentos de preces especiais e recurso a patronos "contra a fome, peste ou guerra". Mudaram os tempos e as formas de oração. Mas sabemos que Deus não é alheio à vida do mundo, porque enviou Seu Filho que, por todo o homem, deu a vida. Há sempre momentos em que isso se compreende melhor. António Rego Reflexo Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...