O comandante pode queixar-se do vento ou do mar. Mas, nem por um momento, renuncia à segurança e à rota do barco. E que os seus homens, cada qual no seu posto, cumpram inteligentemente e com afinco a sua missão.
Já sabemos a opinião de alguns políticos, de muitos jornalistas e comentadores, sobre a situação política do nosso país. Cresce, à hora, o número de analistas com voz pública que vocifera protestos e exibe estrondosas críticas e condenações. Algumas estações de rádio e televisão têm aberto a sua antena para que os ouvintes e espectadores, de qualquer ponto do país, possam intervir e exprimir a sua leitura sobre os diferentes acontecimentos que nos caem em cima, ou que nós fazemos cair (quase sempre se juntam os dois agentes). Mas há ainda uma mancha popular que se não faz ouvir em público. Ou não sabe, ou não quer dizer. Nos desertos de muitas aldeias, nas colmeias apertadas de periferias urbanas, há muitos silêncios e lamentos contidos sobre os bizarros incidentes que vão pautando a nossa vida política, atingindo vezes demais o insólito e o inacreditável. Mesmo quem não percebe de política, nota esse desconchavo de sequências, comunicados, desmentidos, demissões, e intermináveis embrulhos de palavras em meadas sem fim que, quanto mais se pretende destrinçar, mais se enredam. Digamos que a tempestade não vem do mar. Está dentro do barco. As ondas não atacam de nenhum quadrante. Rebentam do convés, da ré e da popa e até parece que têm o epicentro na cabine sagrada do homem da bússola e do leme. As agulhas parecem perturbadas, perdidas da direcção do pólo. É esse desgoverno que, quem não percebe nem discute política, sente.
É pequeno e pacífico o nosso país. Mas não é um brinquedo ou um balão de ensaio onde vale experimentar tudo, inclusive a paciência do povo. O último relatório da Social Watch de Copenhaga, com participação da OIKOS, revela que Portugal parece associado a uma “cultura de irresponsabilidade e impunidade”. Sem credibilidade - o cartão de crédito disponibilizado pelo povo - nenhum poder se sustenta ou legitima.
P. António Rego