O som dos ossos António Rego 16 de Agosto de 2006, às 10:10 ... Há longa data que os produtos para crianças e jovens trazem anexos alguns brindes como chamariz publicitário. Também hoje os jornais de venda ao público trazem muitas vezes produtos que nada têm a ver com os conteúdos ou o projecto editorial. Tanto no caso da Farinha Amparo como publicações que vendem mais baratas quinquilharias mil em visÃveis doses de mediocridade, subjaz uma ideologia que se exprime no objecto “oferecido ao prezado leitorâ€. As bancas e tabacarias estão cheias desses objectos, ao lado de mil revistas com mil fotos que aconchegam pequenas histórias que brotam também duma óptica do tempo. Não raro surgem, nalgumas publicações,â€ofertas especiais†de tatuagens para todos os gostos. Que vêm ao encontro dum estranho ritual dos nossos dias que povoa imaginários de crianças e adolescentes, depois de ter passado por passerelles de todas as modalidades. Estamos perante algo mais longÃnquo do que parece.Com cerca de 4000 anos de existência, segundo os arqueólogos, do Nilo à Polinésia, Nova Zelândia,essa marcação com pretensões de “perenidade no corpo†acabou por ganhar o nome a partir do som estranho produzido por agulhas de ossos que imprimiam exóticos desenhos no corpo humano. Também teve o seu tempo de maldição expressa, como artifÃcio demonÃaco. No Livro do LevÃtico (cap.9) proÃbe-se – dentro doutro contexto - “a impressão de qualquer marca no corpoâ€. Outras correntes consideram a tatuagem como instrumento terapêutico de grande alcance. Mas talvez o mais curioso seja perguntar pelo significado no corpo dos artistas, homens e mulheres de notoriedade que criam uma verdadeira torrente de imitadores que jilgam imperfeito o seu todo sem o artifÃcio dum estranho desenho impresso ainda que sem promessa de vitalÃcio. É expressão corrente “tatuar uma vida†com um sentimento, um gesto, uma expressão, um sinal, uma “impressão de carácterâ€, um dizer forte e profundo sem palavras. Curioso o tempo que vivemos, na procura descoordenada de novos rituais que exprimem os desconhecidos camuflados dentro de cada ser. Que quererá dizer um jovem quando imprime em si próprio aquilo que desconhece? António Rego Reflexo Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...