Editorial

Os distintivos

António Rego
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Fardas, emblemas e bandeiras devem ser usados com peso, conta e medida. Porque, de contrário, podem converter-se em instrumento manipulador, prepotente, ou apenas insignificante. Se entrarmos no terreno sacral dos símbolos, facilmente escorregamos do sublime para execrável, pois se mergulha no oceano do nunca suficientemente explicado e explicável. Aqui se coloca um cansado debate entre fé e ciência, luz da razão e neblina do mistério. E, como é sabido, os pecados tanto da razão como da fé criaram falsos antagonismos e deificaram, em proveito próprio, tronos e altares. É errado colocar o não crente como o bafejado da razão e da ciência, e o crente como o alienado obscurantista que fala de Deus por falta de melhor assunto. O que está a passar-se em França com a proibição do véu islâmico e dos crucifixos nas escolas é de um laicismo primário e obtuso que não sabe bem no que se está a meter. Neste caso, nem o uso do véu, nem a exibição do crucifixo, são decisivos para a fé islâmica ou cristã. Mas assim interditos, geram uma cadeia de consequências imprevisíveis tanto nos mais conservadores como nos mais progressistas, (usando uma linguagem ultrapassada mas em que nos podemos entender). Cortar a meio o profano e o sagrado, o laico e o religioso, o crente e o descrente, como dois pratos únicos da balança do cidadão, é materializar algo de imponderável e desencadear réplicas que podem trazer ao de cima usos e abusos de fardas, emblemas e bandeiras. De si inocentes, podem engrossar a saturada lista de violência que cruza indevidamente o político e o religioso. António Rego


Reflexo