Os fabricantes de ciclones António Rego 27 de Setembro de 2005, às 12:17 ... - Amanhã temos bom tempo? Eis uma pergunta que sempre irritava o meu amigo meteorologista.â€Mas o que é o bom tempo? â€, perguntava. E logo vinha uma dissertação sobre o sol e a chuva, o calor e o frio, o vento e a bonança. E como se entrejogam estes elementos com acertos geológicos tecidos em milhares de milhões de anos, dentro duma harmonia que se não concilia com as nossas contagens nervosas e apressadas. Para nosso pragmático uso consideramos bom tempo os dias de sol, de estrada seca e visÃvel para que o nosso carro deslize à velocidade confortável, sem recursos a abs de emergência. Possivelmente a nossa concepção optimizada de meteorologia integra-se na nossa comodidade imediata, sem nos interessarmos minimamente com o equilibro de conjunto em que se enquadra o nosso planeta e a pequena aldeia que habitamos. Esquecemos a nossa pertença a um sistema complexo, e a nossa responsabilidade directa no equilÃbrio ou desequilÃbrio da morada das nossas vidas. Fomos aprendendo, ao longo deste ano, que o bom tempo não é o que parece. Mesmo estimando o nosso céu azul, a maravilhosa luz que nos embala e as suaves brisas que inebriam o nascer e o declinar de cada dia, olhamos com desolação para as nossas terras ressequidas, as albufeiras rebaixadas e sem brilho, os rios sem alegria no seu curso e os jazigos de água impotentes para matar a sede das populações. Nada se recomporá sem uma chuva intensa e um vento capaz de a gerar e mover, sem uma espécie de toque de violência que sempre acompanha os ritmos descompensados da terra. Que podemos fazer? Pedir a Deus que olhe por nós. E tentar compreender a complexidade das cadeias que envolvem o nosso planeta e em cuja coerência se encontra o conjunto de equilÃbrios que desejamos. Mas há um terceiro ponto que é de consciência. Que responsabilidade tem cada um de nós no contributo para os equilÃbrios necessários do sistema que nos sustenta a vida? Até que ponto somos fabricantes de ciclones nas nossas opções de consumo, na nossa ignorância interesseira sobre as causas de aquecimento do planeta, e que contribuem, como se sabe, para um progressivo aumento das catástrofes naturais. E a nossa maneira de construir cidades, ocupar leitos de rios, violar sequências geológicas que funcionariam muito melhor no respeito pelas leis internas da sua harmonia? Nem sempre o benefÃcio imediato é o melhor. O equilÃbrio da Terra é um problema polÃtico, económico, cultural e ético. Mesmo que a nossa assinatura não esteja no Acordo de Quioto, está nas nossas mãos o presente e o futuro do Planeta. António Rego Reflexo Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...