Os títulos e as embalagens são muito práticos. Em poucas palavras e imagens contam-nos tudo o que está dentro. Mas quando abrimos, vemos que a realidade é mais complexa. E que um título num jornal ou revista não passa muitas vezes dum engodo, buraco de fechadura para se espreitar o que está escondido.
Muito do que se diz sobre a Europa padece deste olhar parcelar e velado acerca duma realidade milenar com uma densidade estonteante de culturas, civilizações, fenómenos políticos e sociais, revoluções, guerras e tratados, mortes e reencontros num grande compêndio de história.
Muitas vezes a Europa é reduzida, maltratada, ofendida mesmo, nas grandes correntes que gerou e no protagonismo com que se posicionou perante povos e civilizações.
Vivemos uma época privilegiada, de paz, de procura duma Comunidade mais que económica, duma aproximação dos países mais pobres, duma convergência gerada por um espírito que foi “gestado” na civilização cristã em valores que têm outros nomes mas a mesma raiz evangélica.
O que se passa com a Europa passa-se com outros sectores do nosso tempo: um mundo laico foi aprendendo e dizendo novos vocábulos e por vezes esquecendo a sua raiz e o espírito que a gerou.
Vem tudo isto a propósito dum documento de invulgar lucidez elaborado por um “comité de sábios” para os Bispos da Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia. Trata-se dum verdadeiro “dicionário de sinónimos” entre os valores cristãos ou, se se quiser, a dimensão ética da União Europeia neles assente. Falar de paz, tolerância, subsidiariedade, liberdade, responsabilidade, é dizer o Evangelho num formulário moderno. Talvez, por isso, não valha a pena definir o Tratado da União, apenas pelo título ou pelo primeiro parágrafo.
António Rego