Os Santos da minha infância
Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
Perdoar-me-ão o tom menos institucional e mais pessoal deste texto. A próxima canonização dos pequenos Francisco e Jacinta, as “crianças de Fátima” como foram apresentadas pelo Vaticano, é a canonização dos santos da minha infância, das figuras que desde cedo associei à ‘Covadiria’, assim mesmo, tudo junto, quando ainda sem saber falar português, na Venezuela, as Aparições faziam de nós, verdadeiramente, um só povo na mesma fé.
Os futuros santos portugueses morreram com aproximadamente uma década de vida (mais uns meses, menos uns meses) e só esse facto foi suficiente para abrir um debate no interior da Igreja Católica: poderia uma tão breve passagem sobre a terra ser apresentada aos fiéis de todo o mundo como exemplo de santidade? A resposta definitiva chega agora, confirmando aquilo que sabemos destes Pastorinhos, de poucas falas e muita oração, atenção a Deus e sacrifício pelo próximo.
Os inúmeros sofrimentos que tiveram de suportar nunca os fizeram perder de vista o “futuro de Deus”, que ultrapassa todos os planos e esquemas humanos. Uma fé inabalável que mesmo perante a iminência da morte não se deixou sacudir.
Sim, Francisco e Jacinta Marto são filhos do seu tempo e a forma como viveram a fé foi condicionada pelo contexto social, cultural e religioso do início do século XX em Portugal. A sua apresentação como modelos de santidade, 100 anos depois das Aparições de Fátima, vai procurar mostrar aquilo que, da sua vida, pode continuar a inspirar quem hoje procura sem cessar um sentido, um destino, uma convicção interior mais forte do que as respostas transitórias da contemporaneidade. Um tempo em que, mais do que certezas, são precisas convicções, palavras que mudem a vida e se transformem em ações.
Fátima é um lugar onde se toma a sério o sofrimento, o próprio, o de Deus e o do próximo. É um lugar onde se pode ir chorar sem perder a esperança, na oração e no encontro. Com a inspiração da fé que iluminou a vida dos pequenos Francisco e Jacinta, até ao fim.
Fátima