Editorial

Paz e liberdade

António Rego
...

Paz e liberdade A encíclica de João XXIII, escrita no coração do Concílio, não seria mais fácil de proclamar hoje do que foi em plena guerra fria – para além da guerra colonial - no ano de 1963. Ou então, não sabemos que temperatura tem hoje a guerra. As coisas correm de tal forma que falar de guerra e paz desde há uns meses, equivale, entre nós, a estar pendente do governo ou da oposição, a ser de direita ou esquerda, a aliar-se à América ou àquilo que se conseguiu colocar no pódio de Staline e que dá pelo nome Saddam. Tombadas as estátuas, do fantasma do Iraque ainda se procuram rastos de vida ou de morte como aconteceu com outro fantasma seu predecessor de nome Bin Laden. O que - ironias à parte – nos cabe, neste todo, é um enorme desconforto de falar da paz, a menos que seja em termos de tal maneira abstractos que tudo fique exactamente na mesma e ninguém se sinta questionado na cor do clube político que escolheu. Bem me lembro dos anos 60 quando, no Dia Mundial da Paz tinha de celebrar a missa com maior afluência de pides que o habitual. E também recordo o conselho de segurança que me era dado pelos anciãos do mesmo ofício: que fosse sempre o mais abstracto e doutrinal possível para não arranjar complicações… Tudo isto tenho presente na temática deste ano para o Dia Mundial das Comunicações Sociais: “Os Media e a Paz na celebração dos quarenta anos da Pacem in Terrisâ€. Não praticarei a injustiça de afirmar que hoje, entre nós, é tão proibido como era há quarenta anos atrás. Podemos dizer tudo o que entendermos pois estamos, teoricamente, numa sociedade livre. Mas existem catálogos de guerra e de paz, de bênção e maldição para quem se atreve a aplicar a teoria no momento e no lugar certo em que a prática dela precisa. E curiosamente existem condicionantes grandes e perigosas a nível de rótulos ideológicos e mesmo dentro de meios de comunicação. Ninguém vai para a cadeia por pensar e dizer o que pensa. Mas dentro do clima que se criou nas redacções, as notícias sobre a guerra e sobre a paz são dadas com extremo cuidado e algum excesso de abstracção devido exactamente ao clima que se gerou nas colagens das opiniões sobre um fenómeno que é – diga-se a verdade - guerra ou paz. E sobre esta matéria continuam a existir dúvidas. Boa altura para se falar de um dos pilares lançados pela Pacem in terris: a liberdade. António Rego


Reflexo