Editorial

Peregrinar pelo mistério humano

António Rego
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Há personagens na história a quem a humanidade nunca ficará suficientemente grata pelo contributo que ofereceram à compreensão do homem, da sua origem e do seu destino. Numa abordagem de superfície estas questões parecerão puramente especulativas, interessantes somente a filósofos e teólogos. Mesmo que a nossa cultura pareça mais preocupada com os carrinhos do super-mercado do que com reflexões existenciais, sabe-se que cada ser humano é portador de uma imensidade de inquietações sugeridas, quantas vezes, pela avalanche de acontecimentos ou até por nada de interessante lhe acontecer. Mesmo que muitos dele pouco saibam, ele não deixa de ser importante para todos nós. Refiro-me a S. Agostinho, um desses personagens essenciais à compreensão do Homem, de Deus e da Cidade. Diz-se mesmo, na celebração dos 1650 anos do seu nascimento, que “sem o seu contributo, a cultura Ocidental seria diferente” ou, se se quiser, teríamos de nós mesmos uma outra visão. É de saudar o congresso que a Diocese de Leiria-Fátima – que o evoca como Padroeiro - celebra em Novembro de 2004. Um grupo dos melhores especialistas portugueses irá “peregrinar” pela Cidade de Agostinho, numa visita guiada por sendas do natural e do sobrenatural, por aproximações do bispo de Hipona ao mistério Trinitário de Deus, pelos amores da Cidade dos Homens e da Cidade de Deus. Reflectir a profundidade da vida é tão importante como discutir problemas de paz, saúde ou habitação. Há dentro de nós dimensões e horizontes que, sem a hipnose do pragmatismo, jogam decisivamente a nossa felicidade na paz ou na inquietude interior. Importa que o homem da rua se deixe surpreender pela explicitação destas procuras que nada têm de rebuscado ou artificial. Como também urge que os sábios expressem de forma cada vez mais perceptível as experiências profundas e as reflexões essenciais à possível compreensão de Deus e da vida. Como foi o caso de Agostinho, visitante persistente do mistério e da aproximação de Deus. A marca da sua conversão deu um tom intrépido a todas as suas navegações pelo oceano de Deus. António Rego


Reflexo