Editorial

Portugal e Grécia

António Rego
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A nossa Europa é mesmo um mosaico curioso. De histórias, passos e compassos com enorme e desconcertante variedade, tanto dos que estão ao longe, como dos que nos ficam quase ao pé da porta. Portugal e Grécia, por exemplo, têm algumas parecenças nas medidas, números e esforços para sair da cauda e apanhar, com dignidade, os que estão na linha da frente da União Europeia. Poderíamos entrar nalguns carros da história e descobrir elementos comuns. Mas para além da língua grega - avó dos nossos dizeres - não nos identificamos hoje com a maior parte dos elementos culturais e religiosos que no último milénio caracterizaram a nova Grécia. Torna-se verdadeiramente espantoso que, na União Europeia (a tal que negou à sua Constituição qualquer referência à matriz cristã), exista um país, como a Grécia, com uma religião oficial do Estado, que declara todas as confissões (que não a Greco Ortodoxa) como religiões estrangeiras (Constituição Grega, artigo 3º). Em consequência, quem é não é ortodoxo – um católico, por exemplo - não é considerado verdadeiramente cidadão grego. Isso consta do registo de identidade e tem, obviamente, conse-quências em toda a vida social. Na Grécia, os Ortodoxos são 97% da população e os católicos de nacionalidade grega são apenas 0,5%. Estes números não andam longe do inverso do que se passa em Portugal em relação a outras Igrejas. Mas nem pela Igreja Católica nem pelo Estado passa a ideia de manter uma legislação do tempo das Cruzadas. Por isso nos custa a crer que na candidatura à União Europeia tenha escapado este pormenor da liberdade religiosa. E se entenda que estejam a ser tomadas grandes cautelas no estudo da admissão da Turquia. Entre nós as coisas mudaram. Habituámo-nos a um respeito e convivência com as minorias religiosas que desfazem qualquer ideia, próxima ou remota, de um Estado religioso ou de uma Religião estatal. O caso da Grécia merece uma reflexão cuidadosa de laicos e religiosos. E embora estejam a ser dados passos lentos (como lenta foi a história que gerou esta situação) importa colher as ilações do que acontece na casa dos outros e está, afinal, mais perto do que parece, da nossa casa. António Rego


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