Retiro da Quaresma António Rego 13 de Março de 2007, às 12:55 ... Não há dúvida que o excesso de proximidade dos factos tira a visão clara das coisas. O coração sempre se interpõe e cobre-se de poeiras que desfocam o real e sobrevalorizam o acessório no conjunto da construção de qualquer história. Também sabemos que, sem o coração, pouco se vislumbra da complexidade da vida e até das grandes razões e objectivos da existência. Quando nos afastamos, ainda que por pouco, do paÃs, da aldeia, do cÃrculo habitual de amigos e companheiros, e nos retiramos do real, parece que tudo ganha uma nova perspectiva e a casa da vida aconchega melhor as peças e articula mais ordenadamente as sequências fundamentais de qualquer facto. Mas que não seja muita a distância num excessivamente longo o tempo. O desafecto também estraga a luminosidade dos raios que nos entrelaçam com os acontecimentos e pessoas que mais proximamente fazem história connosco. Quando Deus diz a Moisés â€eu sou Aquele que sou†abre essa dimensão infinita de tempo e espaço que ultrapassa todas as medidas estreitas e até mesquinhas com que nos medimos. O tempo é nada, o rio da história é uma insignificância comparado com o grande oceano de Deus. Metade do que pensamos, dizemos e fazemos é para deitar fora, deixar no lodo das margens, porque a água prossegue na sua limpidez e pressa para o grande oceano. Mas logo a seguir Deus descreve a grande viagem do Egipto para a Terra prometida. Aà não há um minuto a perder, nem um grão de areia, nem uma gota de água a desperdiçar. Todos os passos são preciosos, todo o esforço é anotado, todas as migalhas essenciais à grande viagem. Longe e próximo são um só. Vontade e inteligência, um só. Um povo dividido nos seus desalentos, é um só, e não pode esbanjar um átomo do sonho e do cansaço. Não estamos perante a poetização de Deus. Esta é a nossa história feita das insignificâncias na vida polÃtica, social, cultural, familiar, colectiva e privada. E neste todo se tece o nosso percurso de infinito com sentido pleno no caminho estreito que trilhamos. Mas que vai mais longe que a soma dos nossos passos ou os anseios do nosso coração. Foi Deus que nos ensinou a fazer história. António Rego Quaresma Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...