Revelar e esconder António Rego 25 de Fevereiro de 2003, às 16:37 ... Por muito que se queira, não se pode fugir. O paÃs anda com excesso de feridas expostas. Quanto mais nelas se remexe, mais alastram. Não há jornal de referência, revista, rádio, televisão ou conversa que se lhes possa escapar. O tema dos abusos sexuais preenche cada vez mais espaço nos ditos e nos escritos. Com uma dramática agravante: quanto mais se tentou apresentar a sexualidade com naturalidade pacóvia, como um tabu vencido pelo esclarecimento e pela desinibição, mais gritante se tornou, pela simples razão de que, seja tratada como for, a sexualidade continua envolta no mistério humano do amor e da vida. Desde que o ser humano se conhece a sexualidade ocupa lugar central nos indivÃduos e nas sociedades. O seu tom sacral, secreto e Ãntimo não é um acaso. Mas a perplexidade surge agora de outro factor: o excesso de exposição pública dos desvios e patologias sexuais sucede a décadas (séculos?) de ocultação aparentemente púdica, mas na realidade imoral, de tantas situações de violência sobre inocentes e indefesos. Aqui chegados, deparamos com uma espécie de cadeia explosiva de situações que não encontram nos organismos institucionais capacidade de resposta e justiça, uma vez que entre a denúncia, a acareação e o juÃzo, passa um tempo que é abafado pela velocidade com que correm os factos. A consequência é a provável criação de injustiças e acusações caluniosas sem resposta ou, ao contrário, a impunidade de alguns que escapam no turbilhão da gritaria histérica da aldeia. A tudo isto se junta a ideia exacerbada de um mundo em degradação, seguida de um desencanto, musicado pelo tom menor da depressão económica, da inevitabilidade da guerra, da insignificância de organizações como as Nações Unidas, e pela noção de que a Europa é, mais que um velho continente, uma chapa de ferro velho. É nestes momentos que precisamos recorrer aos profetas de ontem e de hoje. Urge ler e reler a BÃblia, a história da Igreja e a história universal, o nosso património espiritual, para enquadrarmos o presente capÃtulo num todo do tempo e não em estreiteza neurótica e depressiva que nos pode conduzir à precipitada declaração de falência, implÃcita em tantos desabafos de superfÃcie. Não se deve mandar tocar violinos quando o barco se está a afundar. Mas a descoberta de avarias num compartimento não impede a continuidade da viagem do velho navio da história. Reflexo Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...