Um jogo desigual António Rego 27 de Julho de 2004, às 13:09 ... Os Jogos OlÃmpicos revelam apenas uma parte do que somos. Na Grécia nascidos, como celebração de paz, nunca andaram arredados dos grandes conflitos, mesmo após o seu ressurgimento no século XIX. Foi e é praticamente impossÃvel separar os dramas e os fossos da humanidade deste acontecimento planetário que atinge um grau de ritualidade e celebração únicos. A imagem do facho olÃmpico como sÃmbolo de paz a atravessar fronteiras, culturas e raças, encontra, nas transmissões televisivas, alguns dos momentos mais empolgantes, num hino invulgar à nobreza da condição humana. É bom comungar deste acontecimento transcontinental que simboliza, na componente de beleza e desporto, um dos expoentes de aperfeiçoamento do espÃrito e do corpo. Técnica, beleza, disciplina e vigor são elementos de um todo. Ecuménico, dialogante, irmanado por ideais comuns, mais que um vulgar campeonato, o acontecimento OlÃmpico exprime subliminarmente um conjunto de ideais da grande utopia humana. A revista missionária Além – Mar traz um excelente estudo sobre esta complexa sequência de Jogos, onde o simples desfile dos números deixa algumas questões oportunas à aparente inocência desta iniciativa planetária. Por exemplo: nas 24 edições da era moderna 14 aconteceram na Europa, as outras 10 na Ãsia e na Oceânia. Numa espécie de clube de ricos. Dezenas de paÃses se têm candidatado sem sucesso. Ãfrica participou pela primeira vez em 1904 e a “força†de muitos dos seus atletas tem trazido a Ãfrica vitórias surpreendentes. A ponto de alguns estudiosos afirmarem que a raça negra possui “dons genéticos superioresâ€. Mas a maior parte das modalidades olÃmpicas pertence a um grupo restrito de paÃses.E por isso estamos claramente perante um jogo desigual, ainda que planetário. 3.600 atletas percorrem 78.000 quilómetros com a chama OlÃmpica perante os olhos de 260 milhões de pessoas.Neste todo complexo surge, tÃmida, a palavra Paz. Como algo de imperfeito porque humano. Mas como desiderato oculto em cada coração. Na antiga Grécia os Jogos significavam sempre uma trégua. Pagãos de raiz - curiosamente terminaram quando foi extinto o paganismo – traziam sementes de paz e esperança. Mesmo que, ontem como hoje, fossem rodeados de ambi-guidades que questionavam toda a sua falsa divinização. É que, mesmo durante as OlimpÃadas, a paz não existe por inteiro. Mesmo assim merece ser saudada. António Rego ...... Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...
