Um jornal e uma escola
Paulo Rocha, Agência Ecclesia
Dizer “horrendo” ou qualquer outra palavra para (des)qualificar o atentado perpetrado no fim de uma manhã parisiense, no dia 7 de janeiro de 2015, a um jornal francês é insuficiente. O que dá grande relevância à condenação do ato terrorista é simultaneamente o silêncio e as muitas palavras ditas, as muitas vozes que se levantam contra os provocadores da morte. Felizmente!
As mesmas palavras e muitas mais também não chegam para condenar o ataque a uma escola em Peshawar, cidade do Paquistão, que vitimou 140 pessoas, a maioria crianças e adolescentes. Foi há menos de um mês e é apenas um dos muitos exemplos recentes de atentados à dignidade da pessoa, na sua expressão mais extrema, a morte. Infelizmente!
Em causa não está a comparação entre dramas abomináveis que atingem a humanidade. Antes a repercussão que provoca no outro, em mim, quando dele tomo conhecimento num quotidiano aparentemente pacífico. Apesar de tudo, a proximidade criada pelos media não altera emoções e subjeções de cada sujeito e das sociedades porque as análises e tentativas de combate aos confrontos entre povos estão cada vez mais condicionadas por programas, económicos, políticos ou ideológicos, que pervertem à nascença os objetivos aparentemente desejados.
Catalogar o que motiva os ataques terroristas em setores da religião, de razões étnicas ou culturais ou relacionadas com o controlo dos recursos naturais e de fronteiras apenas permite adiar a procura de soluções, mesmo considerando a “porção” fundamentalista de cada um desses âmbitos. Há “causas perdidas”, falsamente distantes, onde permanecem as raízes dos conflitos que desarmam a normalidade ocidental, frequentemente ameaça por acontecimentos remetidos habitualmente para as telas do cinema.
Apontar soluções é ousadia. Apenas é possível garantir o que está ao alcance de cada sujeito, de cada mulher e homem, procurando sempre salvaguardar a dignidade da pessoa humana, a própria e a do irmão. Quando assim acontecer numa ou duas pessoas, numa multidão, segue-se a pista do Papa Francisco na mensagem para o Dia Mundial da Paz: “Assim como as organizações criminosas usam redes globais para alcançar os seus objetivos, assim também a ação para vencer este fenómeno requer um esforço comum e igualmente global por parte dos diferentes atores que compõem a sociedade”.
Colocar em marcha a “globalização da fraternidade” é o desafio proposto pelo Papa e poderá ser o motivo principal de todas as manifestações contra qualquer atentado. Também o que afetou um jornal porque, afinal, os media livres são os principais meios para denunciar atos hediondos e propor alternativas. Salvaguardando sempre a dignidade das pessoas.
Paulo Rocha
Europa